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Renê diz acreditar que casamento não ‘resistiu’ ao crime

Renê diz acreditar que casamento não ‘resistiu’ ao crime

O casamento entre Renê da Silva Nogueira Júnior, réu pela morte do gari Laudemir de Souza Fernandes, e a delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira pode estar no fim. A informação foi dada pelo empresário durante audiência de instrução na manhã desta quarta-feira (26/11). Em juízo, o homem não falou muito sobre o crime e sim sobre sua vida. Laudemir foi morto a tiros depois que o réu teria se irritado com um caminhão de coleta de lixo, em 11 de agosto, no Bairro Vista Alegre, Região Oeste de BH.

Renê foi ouvido pela juíza Ana Carolina Rauen Lopes de Souza, do 1º Tribunal do Júri Sumariante da Comarca de Belo Horizonte, logo após quatro testemunhas. Ele não respondeu a perguntas sobre o crime, mas contou sobre sua própria história. Por fim, o empresário afirmou que acredita estar sendo perseguido e não saber dizer se o seu casamento com a delegada, denunciada no processo por porte ilegal de arma de fogo, resistiu aos fatos.

O empresário ainda contou que viveu isolado muitos anos por conta de uma doença de seu irmão. Falou também que os diplomas juntados ao processo sobre sua formação universitária são verdadeiros, e disse que foi julgado pela imprensa ao ser comparado com um “empresário da Shopee”.

Em nota, a defesa de Renê afirmou que, após os dois dias de audiência, ficou “comprovado” que o empresário não foi identificado “na forma da lei processual”. Além disso, os advogados afirmaram que os projeteis foram recolhidos por uma testemunha, o que representa quebra da cadeia de custódia da prova.

De acordo com os defensores, a obtenção de acesso ao celular do acusado se deu sem a prévia comunicação dos seus advogados em notória violação ao princípio da não autoincriminação. A informação já teria sido incluída no processo, no pedido para anular as provas obtidas a partir da quebra do sigilo telefônico do réu. No entanto, a petição foi negada.

Confira, na íntegra, a nota da defesa de Renê:

“A defesa técnica de Renê da Silva Nogueira Júnior informa que, após 2 dias de audiência, as todas testemunhas presenciais foram ouvidas na qualidade de informante por terem interesse no resultado do processo, vez que ajuizaram ação indenizatória, restou comprovado que não houve reconhecimento do réu na forma da lei processual, que os projéteis foram recolhidos por transeunte não identificado, em clara quebra da cadeia de custódia da prova, e que a obtenção de acesso ao celular do acusado se deu sem a prévia comunicação dos seus advogados em notória violação ao princípio da não autoincriminação. No mais, confiamos que o trabalho seja reconhecido e alcance resultados pretendidos.”

Como o crime aconteceu?

  • Equipe de coleta de lixo trabalhava na Rua Modestina de Souza, Bairro Vista Alegre, em BH, na manhã do dia 11 de agosto.
  • Motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, de 42 anos, manobra para liberar passagem, após ver uma fila de carros se formar atrás dela.
  • Eledias e os garis acenam para Renê da Silva, que dirigia um carro BYD, permitindo a passagem.
  • O suspeito abaixa a janela e grita que, caso encostasse em seu veículo, ele iria “dar um tiro na cara” da condutora.
  • Na sequência, ele segue adiante, estaciona, sai do carro armado; derruba o carregador, recolhe e engatilha pistola, segundo o registro policial.
  • Ele faz um disparo que atinge Laudemir no abdômen.
  • O gari é levado ao Hospital Santa Rita, em Contagem, na Grande BH, mas morre por hemorragia interna.
  • No local, PM recolhe projétil intacto de munição calibre .380.
  • Horas após o crime, a PM localiza e prende Renê no estacionamento de academia na Av. Raja Gabaglia.
  • Flagrante convertido em prisão preventiva em audiência de custódia, no dia 13 de agosto, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais
  • Renê está preso no Presídio de Caeté, Grande BH

Qual o envolvimento da delegada no crime?

A delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira sabia que o marido tinha envolvimento com o crime antes de sua prisão no fim da tarde de 11 de agosto. A informação consta na conclusão do inquérito que tramitou na 4ª Subcorregedoria da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), que apurou o envolvimento da mulher no crime, a que o Estado de Minas teve acesso. O sigilo sobre as informações foi determinado logo após a publicação da matéria.

Durante o inquérito, os investigadores, por meio de análises do aparelho celular, conseguiram confirmar que a delegada sabia que Renê era suspeito do crime, mas não acionou a polícia ou o prendeu. Conforme o documento, Ana Paula fez 29 pesquisas na plataforma de Registro de Eventos de Defesa Social (REDS), onde estão boletins de ocorrências em andamento e finalizados. As consultas, ainda segundo as análises, aconteceram das 10h30 às 13h20. Entre os filtros usados pela delegada estava seu nome, a placa do carro usado pelo marido, o nome de Renê e o nome da vítima.

Ao longo das investigações sobre a morte de Laudemir, a PCMG não conseguiu confirmar se a delegada sabia, ou não, que o marido matou uma pessoa a caminho do trabalho. Durante coletiva de imprensa, após a conclusão do inquérito criminal, o delegado Matheus Moraes, afirmou que no dia do crime diversas mensagens trocadas entre os dois foram excluídas e eles teriam passado a se comunicar por ligação via aplicativo de mensagem.

No entanto, durante as investigações na casa corregedora, os policiais conseguiram recuperar que às 14h37, Ana Paula mandou um print de uma matéria publicada por um veículo de imprensa de BH com imagens do carro usado pelo suspeito de matar o gari. Em seguida, o homem liga para a esposa e os dois conversam por cerca de 7 minutos.

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Diante das informações a Corregedoria da PCMG indiciou a delegada por suposta prática de prevaricação. Conforme o Código Penal, o crime acontece quando um funcionário público retarda ou deixa de praticar um ato de ofício por motivo de interesse. Ao Estado de Minas, o advogado de Ana Paula, Leonardo Avelar Guimarães, ressaltou que devido ao estado de saúde da servidora, não foi possível o “exercício efetivo do seu direito de defesa no referido inquérito”.

Caio Rocha

Sou Caio Rocha, redator especializado em Tecnologia da Informação, com formação em Ciência da Computação. Escrevo sobre inovação, segurança digital, software e tendências do setor. Minha missão é traduzir o universo tech em uma linguagem acessível, ajudando pessoas e empresas a entenderem e aproveitarem o poder da tecnologia no dia a dia.

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