Em Londrina, nem Papai Noel escapa da polarização
Do tamanho de um prédio de nove andares, o Papai Noel instalado no Lago Igapó 2, na zona sul, fez com que Londrina se tornasse pauta de discussão na internet esta semana. Um dia após a iluminação das decorações natalinas na região, o programa humorístico Pânico na Jovem Pan elegeu o Bom Velhinho “um dos mais feios do Brasil”, na segunda-feira (1º). Os comentários nas redes sociais são divididos, com parte da população defendendo a estrutura e seu ineditismo, e outros londrinenses criticando a iniciativa e comentando a “chacota em nível nacional”. Vereadores da base e da oposição de Tiago Amaral (PSD) também se posicionaram na internet.
Nas publicações do prefeito sobre a atração no Instagram, munícipes não economizaram nos adjetivos. “Brega”, “crise estética”, “monstro do lago” e “banana de pijama” foram algumas das descrições usadas, com outro usuário afirmando que “criticar é fácil, difícil é elogiar”. Uma mulher comentou que Londrina merece, sim, um Natal iluminado, mas sugeriu que o órgão municipal reveja o montante gasto e priorize UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) “que estão paradas e não serão inauguradas por falta de dinheiro para contratação e mobiliário”.
Um seguidor que aprovou a novidade disse que é difícil satisfazer os londrinenses, considerando que “se é Papai Noel, reclama, se é passarela, reclama”. Uma mulher que não mora em Londrina afirmou que a estrutura “ficou linda e deu vontade de visitar a cidade”. Também foi considerado que esta época do ano traz vida noturna à cidade, com geração de empregos e visibilidade. Um dos comentários trouxe elogios à ideia de descentralizar o Natal com atrações em outros pontos, pedindo que munícipes “defendam” o local onde vivem.
Movimenta o comércio
Entre os frequentadores do lago, a controvérsia persiste. Amanda Mellos esteve frente à frente com o Papai Noel na noite desta quarta (3), junto do esposo, Thiago, e do filho de 5 anos, Enrico. A família segue a tradição anual de tirar uma foto em frente à decoração flutuante todo dezembro, sendo que, neste ano, sentiu falta da possibilidade de atravessar a passarela da virada. Comentando sobre o tamanho da atração, disse que “é impactante”, mas que, “visualmente, não parece tão grande assim”. Se pronunciando sobre o título de feiúra concedido pelo Pânico, refletiu que “faltou um sorrisinho nele, mas pessoalmente é mais bonito do que na foto”.
O Papai Noel custou cerca de R$ 1,8 milhão aos cofres públicos, com toda a decoração natalina espalhada pela cidade atingindo R$ 4,3 milhões. A empresária julgou que a montagem da decoração natalina faz o comércio girar, apoiando o investimento. “Até semana passada, não tinha nada montado e todo londrinense estava sentindo falta. É muita gente ganhando dinheiro, são os ambulantes, o pessoal que vem pra andar na carreta, isso movimenta Londrina”.
Complementando, Mellos disse esperar que a atração não tenha sido alugada, e sim, comprada, “para não ter que gastar essa verba de novo”.
Amanda, Thiago e o filho Enrico em visita à decoração natalina flutuante
Não atendeu a expectativa
O Papai Noel flutuante é composto por 450 mil lâmpadas de LED e pesa 15 toneladas. Com 27 metros de altura, será avaliado por uma comissão julgadora do Guiness World, o livro dos recordes, nesta sexta (5) à noite, para possivelmente reconhecê-lo como o maior do mundo. A grande expectativa colocada sobre o Bom Velhinho, de receber um título internacional, frustrou Daniella Bordin, que visitou a atração com o marido e as filhas.
“Acho que se não tivesse isso de ser o maior do mundo, o pessoal não ia ficar tão decepcionado. Não achei feio, mas como prometeram muito, na hora de entregar estavam com uma expectativa muito alta, e não atendeu”, pontuou.
A dentista avaliou que o investimento milionário só fará sentido se houver retorno financeiro, acrescentando que “tem milhões de coisas mais importantes que a decoração de Natal”. A programação familiar foi motivada pelo pedido das filhas, Lara e Liz. Acostumadas com a passarela, “a primeira coisa que elas perguntaram foi ‘como a gente vai até ele?’, porque da outra vez íamos até a árvore”, contou Bordin.

Filhas de Daniela e Lucas, Lara e Liz, estavam ansiosas para atravessar o cartão-postal a pé
Oportunidade de renda
Já Adriana Tanoue não tem reclamações a fazer quanto à novidade da gestão, dizendo que se espantou ao saber que londrinenses estavam chamando o Papai Noel de feio.
“Ficou bem autêntico e diferente, é uma coisa nova, não pode ser tudo igual. Mas no ano que vem pode ter uma ponte, seria legal ter a opção de atravessar”, sugeriu. A respeito do reconhecimento no livro dos recordes, brincou que Londrina “já ganhou”.
Rodrigo Ohara aproveitou o início do LondriNatal na zona sul para fazer uma renda extra, ofertando seus serviços de fotografia na Avenida Higienópolis. “Temos um cenário lindo que une natureza e os enfeites natalinos, e fica perfeito para as pessoas guardarem de lembrança. Ano passado, consegui dinheiro suficiente para comprar uma câmera nova”, celebrou.
Completou dizendo que “estamos apenas começando esse ano, mas tenho confiança que as pessoas vão parar para ter uma foto única do Papai Noel de Londrina”.

Rodrigo Ohara cobra R$ 15 para fotografar visitantes do lago
Na política
Nas redes sociais, a estrutura também foi assunto entre os ocupantes das cadeiras na Câmara Municipal. Em sinal de aprovação, Marcelo Oguido (PL) compartilhou em seu story no Instagram o vídeo publicado pelo Governo do Paraná, que fala que “o maior Papai Noel do mundo fica no Paraná”.
Já Matheus Thum criticou a “gestão dos recursos” em duas publicações, editando o Bom Velhinho de modo que ele aparenta estar no “mundo invertido” da série Stranger Things, com os olhos arregalados, roupa toda vermelha e cenário escuro ao fundo. O texto diz: “Papai Noel invertido vendo o Papai Noel do Lago Igapó”, com o complemento da legenda: “calma gente, é só meme! Um meme de 2 milhões (de reais)”.
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A vereadora Paula Vicente (PT) publicou uma foto da decoração, questionando: “então se a criança se comportar durante o ano, esse ser entra pela chaminé de casa meia-noite? O Tiago Amaral acabou com um dos métodos educacionais mais efetivos da nossa cultura. Filha, pode bagunçar”.
O ex-prefeito Alexandre Kireeff postou uma foto da decoração, em que se lia “o maior Papai Noel do mundo é londrinense e está lá no meio do Lago Igapó!”. Em resposta a um comentário sobre “ver as despesas versus arrecadação que os enfeites vão proporcionar” antes de criticá-los, Kireeff disse que eles servem “mais para gerar movimento para as famílias, alguma renda a ambulantes e talvez uma mídia espontânea sobre a cidade (isso, sim, de muito valor). Mas os números que estavam sendo divulgados sobre o retorno econômico sempre foram muito, digamos, otimistas”.



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