×

Primeira novela vertical da Globo entrega bons resultados e abre caminho promissor para futuros projetos

Primeira novela vertical da Globo entrega bons resultados e abre caminho promissor para futuros projetos

Jade Picon (Soraia) e Lucas (Daniel Rangel) em “Tudo Por Uma Segunda Chance” (Foto: Globo/ Jaime Miranda)

A Globo estreou na última terça-feira, dia 25 de novembro, sua primeira novela vertical: “Tudo Por Uma Segunda Chance”. A trama acompanha a saga de Paula (Debora Ozório) para retomar sua vida e reconquistar seu grande amor, Lucas (Daniel Rangel). Após armação de Soraia (Jade Picon), vilã implacável e amiga de infância do casal, a mocinha acaba presa injustamente, acusada de envenenar o noivo, abrindo caminho para Soraia ocupar o coração do jovem milionário. Ao todo, serão 50 capítulos. Com as gravações já encerradas, a novelinha terá dez capítulos lançados por vez, sempre às terças.

A Globo aproveitou sua própria grade da dramaturgia para divulgar a novidade: na data da estreia, foi ao ar uma cena com referência à novela em “Dona de Mim”. Na trama de Rosane Svartman, Kami (Giovannna Lancellotti) aparece assistindo à novelinha e explicando ao noivo Ryan (L7nnon) sobre o conteúdo, o formato e onde assistir. “Tudo Por Uma Segunda Chance” está disponível nos perfis da TV Globo nas redes sociais e plataformas: TikTok, Instagram, Facebook, X e YouTube. A partir do dia 12 de dezembro, os capítulos também estarão disponíveis no catálogo do Globoplay.

Com a novidade, a Globo surfa na onda de uma grande tendência global. Enquanto os serviços tradicionais, como a própria emissora, correm atrás do formato, as plataformas dedicadas exclusivamente aos microdramas lideram a categoria. O ReelShort, por exemplo, já oferece mais de 450 séries no México e mais de 440 no Brasil. “A Vida Secreta do Meu Marido Bilionário” – uma das principais produções do aplicativo, que conta com episódios de um a três minutos de duração – ultrapassou 100 milhões de views em apenas três dias. A trama, que é a primeira brasileira do serviço, é protagonizada pela atriz Jessika Alves, que já atuou em novelas da Globo e da Record.

Outros apps, como DramaBox e GoodShort, já somam um milhão de downloads cada, enquanto outros concorrentes, como ShortMax, FlickReels e RapidTV, estão fortalecendo seus catálogos. Segundo a Media Partners Asia, essas produções movimentaram US$ 1,4 bilhão em 2024 – e isso sem contar a China, país onde o formato surgiu e ganhou destaque em meados de 2020. Na América Latina, o VYCO se tornou um player relevante. Além da distribuição, ele investe em produções originais com talentos regionais, conectando-se com o público local e criando conteúdo que ressoa com as particularidades culturais.

No início de 2026, o Brasil ganhará sua primeira plataforma nacional dedicada às produções verticais: trata-se da Tele Tele, fundada pelos sócios Camila Guerrilheiro, Antonio Prata, Chico Mattoso, Thiago Teitelroit e Gustavo Mayrink. No país, a aposta parece ser promissora: somente o Kwai, destino muito procurado para os fãs dos microdramas, somou 60 bilhões de visualizações com essas produções entre 2023 e 2024 e conta com milhares de criadores locais focados exclusivamente nesse tipo de projeto.

“Tudo Por Uma Segunda Chance” é produzida pelos Estúdios Globo, escrita por Rodrigo Lassance, com direção artística de Adriano Melo, produção de Juliana Castro e produção executiva de Lucas Zardo. A direção de gênero é de José Luiz Villamarim.

assets fotos 336 texto da novela vertical tudo por uma segunda chance 31bfd04b1c1aassets fotos 336 texto da novela vertical tudo por uma segunda chance 31bfd04b1c1a
(Foto: Globo/ Jaime Miranda)

“Os microdramas têm feito muito sucesso pelo mundo, e estudamos o formato para começar a experimentá-lo na Globo. Nesse mergulho, pensei em várias ideias, que culminaram na sinopse de ‘Tudo por Uma Segunda Chance’. A equipe toda gostou da história, que tem uma inspiração de bem contra o mal, vilões contra mocinhos. Serão episódios de dois a três minutos de diversão intensa, direto ao ponto, com todos os elementos de um melodrama”, disse o autor Rodrigo Lassane. “É um melodrama que vai ter uma grande intensidade. Temos um pouco de thriller psicológico também. É uma trama bem histriônica, que tem elementos absurdos, mas com os quais nos deparamos cotidianamente nos jornais”, detalhou.

O diretor artístico Adriano Melo acrescentou: “A Globo faz 100 anos em 2025, sendo 60 da televisão, e estamos estreando uma nova linha de produção com as novelas verticais. É uma nova forma de fazer dramaturgia, para um consumo mais rápido pelo celular, que se conecta com a rotina de muitos brasileiros, com a expertise da Globo. Isso comprova que a Globo se renova constantemente. Nós temos uma métrica de velocidade e qualidade que faz da empresa o que ela é. Vamos aplicar isso ao nosso processo criativo, aproveitando as dependências da Globo, os jardins, os estúdios, as inúmeras cidades cenográficas e cenários. O objetivo é usar essa estrutura com a nossa leitura para o que o formato pede”.

E, a respeito dos processos de gravação, contou: “Gravar na vertical é diferente porque precisamos pensar no que traz a força da verticalização. A forma de enquadrar e de marcar figuração e elenco é diferente. Eu preciso ter mais teto e chão. Em uma novela tradicional, esse tipo de acabamento não é tão necessário porque o enquadramento é mais fechado. Os closes também funcionam de forma diferente, e tudo foi definido após um grande estudo. Estamos trabalhando com câmeras de muita qualidade, mais leves, menores”.

Por enquanto, o resultado salta aos olhos: com mais de um milhão de visualizações somente no dia do lançamento, a novela vertical já soma hoje, às vésperas de completar uma semana no ar, 24 milhões de views. Vale observar que o elenco traz um nome que tem forte apelo nas redes sociais – a atriz e influenciadora Jade Picon, que acumula mais de 21 milhões de seguidores somente no seu perfil do Instagram. O elenco conta ainda com outros nomes que a faixa jovem admira, como Debora Ozório e Daniel Rangel, além da volta de atores veteranos que estavam afastados das novelas, como Beth Goulart, Vanessa Gerbelli, Leonardo Bricio e Marcos Winter.

“Tudo Por Uma Segunda Chance”, como já era de se imaginar, não é uma produção ambiciosa. É nítido que o orçamento, comparado ao das grandes produções da Globo, é bastante reduzido. Muitas das cenas foram gravadas nos próprios corredores dos camarins da emissora e nos espaços comuns dos Estúdios Globo. O elenco é enxuto – são cerca de dez nomes entre os principais, além de alguns poucos figurantes. Os cenários são poucos, simples e sem detalhes. O roteiro é superficial – não investe na construção de personagens, em arcos dramáticos ou no desenvolvimento das tramas. Os clichês e os famosos embates entre mocinhos e vilões são recorrentes. As frases ditas pelos protagonistas chamam a atenção por soarem fakes e exageradamente melodramáticas. As atuações são quase que mecânicas – e, ironicamente, parecem ter sido pensadas para serem exatamente assim. E é curioso que, embora a trama seja criada no Brasil, produzida e dirigida por talentos brasileiros e interpretada por atores locais, a impressão para quem assiste é a de estar diante de uma novela de dramalhão mexicano.

assets fotos 336 texto da novela vertical tudo por uma segunda chance bb4dcaed0516assets fotos 336 texto da novela vertical tudo por uma segunda chance bb4dcaed0516
(Foto: Globo/ Victor Antunes)

Apesar da boa audiência e de muitos comentários positivos feitos pelo público nas redes sociais, a crítica especializada não tem gostado de “Tudo Por Uma Segunda Chance”. Há quem diga que o projeto nem de longe lembre uma produção assinada pela TV Globo. “Simples” e “superficial” têm sido adjetivos bastante usados para definir a novela. No entanto, é ingênuo pensar que a Globo não saiba de tudo isso. “Tudo Por Uma Segunda Chance” é um produto que tem a cara da TV Globo exatamente por conta desses fatores. Isto é, a Globo conhece muito bem sua audiência e o público brasileiro, e seu mérito está em ter feito um projeto que segue exatamente a demanda: um produto de consumo rápido, para ser assistido assim como assistimos aos Stories dos nossos amigos, conhecidos e demais perfis que seguimos nas redes sociais. Ninguém espera profundidade, atuações detalhadamente construídas ou grandes reviravoltas dentro de um vídeo de três minutos. A expectativa é, justamente, por uma história bem mastigada, que não demanda 100% de atenção ou concentração por parte do espectador. É o famoso conteúdo “para matar o tempo” e que, portanto, não pode e nem deve ser visto pelos mesmos olhos de quem vê uma novela das nove, grandes séries nas plataformas de streaming ou longas-metragens nos cinemas. Cada janela tem seu formato, seu público e suas características. E, claro, seus méritos e diferenciais. É aquela história de só comparar maçãs com maçãs e bananas com bananas.

O boom das novelas verticais não indica necessariamente um emburrecimento ou preguiça crescente da audiência. Pode ser que indique, sim, mas isso só o tempo dirá. Por enquanto, estamos caminhando mais para um cenário de pacífica convivência, onde todo conteúdo encontra seu público e cada espectador é livre para assistir aquilo que mais lhe agrada – lembrando que isso não significa escolher uma coisa em detrimento de outra. Ao mesmo tempo em que os microdramas estão bombando, o cinema brasileiro volta a receber grandes bilheterias, os blockbusters seguem arrastando multidões, as séries continuam batendo recordes de visualizações nas plataformas e a boa e velha TV segue ocupando seu espaço na casa das pessoas. Como a própria história da indústria de mídia e entretenimento comprovou ao longo dos anos, o surgimento de um novo formato ou janela não representa obrigatoriamente o desaparecimento completo daquele que veio antes.

“Tudo Por Uma Segunda Chance” vem para provar que a Globo, assim como é especialista em fazer grandes telenovelas, que são amplamente consumidas no Brasil e importadas para o mundo, também pode se especializar nesse novo gênero do audiovisual. Atento às movimentações do mercado e às tendências de consumo global, o grupo de mídia reforça seu pioneirismo e capacidade de decifrar a audiência brasileira como ninguém. Vale observar se as outras emissoras abertas – e até mesmo as plataformas de streaming, por que não? – seguirão por esse mesmo caminho.

Nesta terça-feira, dia 2 de dezembro, serão lançados mais dez capítulos da trama. E a partir do dia 12 deste mês, os capítulos de “Tudo Por Uma Segunda Chance” também estarão disponíveis no Globoplay para todos.

Nesta mesma data, estreia “Cinderela e o Segredo do Pobre Milionário” a primeira novelinha Original Globoplay, protagonizada pelo cantor sertanejo Gustavo Mioto e por Maya Aniceto. O Globoplay contará ainda com edições especiais de histórias de personagens icônicos da Globo, desenvolvidas a partir de conteúdos já realizados, como Bibi Perigosa de “A Força do Querer”, Ramiro e Kelvin de “Terra e Paixão” e Angel de “Verdades Secretas”, além de títulos internacionais de sucesso.

Caio Rocha

Sou Caio Rocha, redator especializado em Tecnologia da Informação, com formação em Ciência da Computação. Escrevo sobre inovação, segurança digital, software e tendências do setor. Minha missão é traduzir o universo tech em uma linguagem acessível, ajudando pessoas e empresas a entenderem e aproveitarem o poder da tecnologia no dia a dia.

Publicar comentário