×

Falta de indicação sobre corte de juros frustra analistas – 10/12/2025 – Mercado

Falta de indicação sobre corte de juros frustra analistas - 10/12/2025 - Mercado

A falta de sinalização dos integrantes do Copom (Comitê de Política Monetária) de que o ciclo de juros altos está perto do fim deixou investidores frustrados nesta quarta-feira (10), em um dia em que a inflação deu sinais de arrefecimento.

Em um comunicado ao mercado, o colegiado repetiu em dois parágrafos que a Selic deve seguir alta “por um período prolongado de tempo”.

Mais cedo nesta quarta-feira o IBGE informou que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado em 12 meses até novembro é de 4,46%, alimentando a expectativa de redução dos juros. Pela primeira vez desde setembro de 2024 ficou abaixo do teto da meta, de 4,5% (leia mais abaixo).

Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, diz que a expectativa dele era justamente que retirasse do comunicado a indicação de manutenção dos juros altos no futuro, para que ficasse em aberto a possibilidade de corte de juros em janeiro.

Danilo Passos, economista da WHG, diz que nos últimos comunicados foi empregada a expressão “bastante prolongado” para explicar a manutenção dos juros em patamar elevado. Às vésperas dessa reunião, porém, o mercado estava dividido em relação aos próximos passos do Copom, com analistas que esperavam alguma suavização no texto. Ele mesmo, no entanto, projeta que a Selic só vai começar a cair em março e, por isso, não houve surpresa.

O colegiado manteve no comunicado a expressão “bastante prolongado”, sem dar pistas de quando iniciará o corte da taxa.

JUROS REAIS ELEVADOS

Com a redução da inflação, os juros reais no Brasil foram para 10,08%.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, afirma que, no comunicado, o Banco Central sinaliza que não vai mudar a Selic em janeiro, “o que significa dizer que a taxa real de juros seguirá subindo nos próximos meses, se aproximando de 11%, taxa que não vemos desde 2005”.

Segundo ele, a economia já está desacelerando e a inflação se aproximando da meta no horizonte de 18 meses, mas para tomar a decisão de cortar a taxa o Copom quer ver uma diminuição da alta dos preços em serviços e no mercado de trabalho também.

Conforme o economista, o IPCA tende a ficar abaixo do teto de 4,5% ao longo do próximo ano, mas só deve atingir o centro da meta de 3% em 2027.

Andre Braz, coordenador dos índices de preços e especialista em política monetária e inflação do Ibre, da FGV (Fundação Getulio Vargas) diz que o Copom deveria mesmo ter mantido a taxa nominal e que só dá para pensar em corte no fim do primeiro trimestre do ano que vem.

Para ele, a política fiscal expansionista obriga a política monetária a ser especialmente contracionista.

Além disso, ele afirma que apesar de o índice geral de inflação estar desacelerando, há grupos de bens ou serviços que ainda tem aumentado além da meta: “Serviços e itens de preços monitorados, que somam 55% do orçamento da família, estão com taxas anuais de 6% e 5%, respectivamente”.

No mercado financeiro, era quase unânime a expectativa de que os juros ficariam inalterados no último encontro deste ano. Levantamento feito pela Bloomberg mostrava que a manutenção em 15% ao ano era a projeção de todas as instituições consultadas.

Nelson Rocha Augusto, economista do BRP, era um dos poucos especialistas que projetavam uma decisão diferente. Ele esperava uma diminuição de 0,25 ponto percentual. Para Augusto, a economia está esfriando.

Ele afirma que, se não houvesse uma expansão fiscal, uma taxa real de juros neutra seria de cerca de 4,5%. Como o governo tem gastado, seria preciso subir alguns pontos percentuais, mas que não precisaria ser no nível atual.

Outro que projetava uma diminuição era Roberto Troster. Ele afirma que a dinâmica da inflação está mais favorável desde março, quando as projeções começaram a melhorar, mas, para ele, o mais importante é que, com os juros básicos muito elevados, a dívida brasileira começa a crescer demais. Ele afirma que mesmo o Banco Central, que tem como mandato controlar a inflação, precisa olhar para o doente, e não só para a doença: ou seja, pensar na economia como um todo, e não apenas nos aumentos gerais de preços.

A maioria das projeções apontava que ocorreria mesmo a manutenção da taxa nominal na reunião desta quarta.

A volta do IPCA para um patamar inferior ao teto da meta de inflação, de qualquer forma, ajuda o BC (Banco Central) na condução da política monetária e reforça a expectativa de início de um ciclo de cortes na taxa básica de juros, a Selic, no primeiro trimestre de 2026, segundo economistas.

A divulgação dos números da inflação ocorre no mesmo dia em que o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC faz sua última reunião em 2025 para definir o patamar da Selic, atualmente em 15% ao ano.

Em novembro, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, disse que a instituição deveria perseguir o alvo de 3%, e não o limite superior de 4,5%.

Com a trégua do IPCA em 12 meses, integrantes do governo Lula (PT) e empresários reforçaram as cobranças por redução dos juros nas últimas semanas.

Ao levar a Selic para 15%, o BC buscou esfriar a demanda por bens e serviços, já que o crédito fica mais caro. Isso tende a reduzir a pressão sobre parte dos preços.

O efeito colateral é a desaceleração da economia, que já apareceu no PIB (Produto Interno Bruto) e que pode causar incômodo para o governo antes das eleições de 2026.

Felipe Queiroz, economista-chefe da Apas (Associação Paulista de Supermercados), afirma que o país precisa de uma taxa de juros “mais civilizada” que estimule os investimentos. Para ele, haveria espaço para corte na Selic já na reunião desta quarta.

“Todos os dados apontam para uma inflação com menor pressão sobre os orçamentos das famílias e com a expectativa de que o ciclo de arrocho monetário já se encerre nos próximos meses”, diz.

Caio Rocha

Sou Caio Rocha, redator especializado em Tecnologia da Informação, com formação em Ciência da Computação. Escrevo sobre inovação, segurança digital, software e tendências do setor. Minha missão é traduzir o universo tech em uma linguagem acessível, ajudando pessoas e empresas a entenderem e aproveitarem o poder da tecnologia no dia a dia.

Publicar comentário