“Persistam, vocês pertencem a esse lugar”, diz uma das 10 meninas aprovadas no vestibular mais difícil do país
Quando o assunto são vestibulares difíceis, não tem jeito: todo mundo logo pensa no ITA, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Focada especialmente em cursos de engenharia, a instituição pública de ensino superior é uma das concorridas do Brasil e ganhou fama pelas questões complexas da prova, que desafiam até os estudantes mais fãs de exatas. Para as meninas, outros fatores entram na conta.
Estudos como Global Gender Gap Report, publicado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial, indicam que estereótipos de gênero e a baixa expectativa na escola afetam o desempenho de meninas em ciências e exatas, afastando-as de carreiras na área. Todos os anos, as listas de aprovados do ITA, de certa forma, refletem essa realidade. Nesta edição, apenas 10 das 180 vagas ofertadas foram preenchidas por mulheres.
Uma delas é a carioca Beatriz Saraiva da Silveira, de 21 anos. “Acredito que minha aprovação pode inspirar outros jovens, mas principalmente outras mulheres, porque ainda somos minoria entre os aprovados do ITA”, conta a aprovada na 18ª posição do vestibular – e na primeira entre as meninas.
O interesse pela Engenharia surgiu ainda no Ensino Médio, e Beatriz viu no ITA a chance de se desafiar e buscar sua melhor versão. “Decidi que valia a pena tentar”, relembra.
A trajetória da jovem também serve de inspiração para quem não passou de primeira no vestibular. Ao todo, a aluna do Poliedro fez 5 anos de cursinho para conquistar a vaga dos sonhos. Para além de desafios mais práticos, como os impostos pela pandemia, ela também precisou de resiliência para seguir tentando a cada reprovação.
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“Aquela ideia que muita gente repete, de que só passa no ITA quem é ‘gênio’, acaba pesando, e em alguns momentos me fazia pensar que talvez eu não fosse capaz”, recorda. Com o tempo, percebeu que o caminho longo fazia parte, “e que constância e disciplina contam muito mais do que qualquer rótulo”, em suas palavras.
Para outras meninas que tentam uma vaga no instituto, Beatriz aconselha que não se deixem limitar pelas estatísticas. “Mesmo que ainda sejamos poucas, cada nova mulher que chega abre espaço para muitas outras. Persistam, vocês pertencem a esse lugar”.
“Quero servir de exemplo para alunos que se sentiram inseguros como me senti”
A trajetória de Beatriz se assemelha, em muitos sentidos, à de Sabrina Brito Lira, outra aprovada no ITA 2026. Fisgada pelo sonho da Engenharia desde os 14 anos, Sabrina também se apaixonou pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica de cara, quando viu uma propaganda na televisão. À princípio, não tinha ideia do quão difícil era atravessar a peneira, mas a dificuldade da prova acabou servindo de motivação.
“O que me inspirou desde o começo foi o desafio da prova”, conta. “Eu queria muito ser capaz não apenas de responder questões difíceis, mas de entender o conteúdo daquela prova. Queria muito que a minha compreensão de Física, Química e Matemática subisse ao nível que era cobrado”.
Alcançar a aprovação também não foi simples: ao todo, Sabrina passou 6 anos se preparando em cursinhos. Por isso, sente que é importante inspirar principalmente meninas e outros estudantes que passam anos prestando o vestibular até serem aprovados.
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“Muitas vezes a gente escuta (ou até dizemos pra nós mesmos) que ‘o ITA não é pra mim’ ou ‘já estou há muito tempo tentando, então não vai dar certo’. Essas foram crenças que eu tive que desconstruir ao longo da preparação, principalmente no último ano”, afirma. “Como eu precisei muito de exemplos e referências, entre colegas e professores, espero poder retribuir servindo de exemplo para alunos que se sentem inseguros como eu me senti”.
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