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Caso Epstein evidencia que domínio de Trump sobre republicanos mostra sinais de enfraquecimento

Caso Epstein evidencia que domínio de Trump sobre republicanos mostra sinais de enfraquecimento

A aprovação quase unânime no Congresso dos EUA, na terça-feira, de um projeto de lei que obriga o Departamento de Justiça a liberar os arquivos do processo contra o bilionário Jeffrey Epstein — morto na prisão em 2019 acusado de crimes sexuais e tráfico de pessoas — é o mais recente episódio de uma série que pode ser a indicação do início do enfraquecimento do domínio de mão de ferro que o presidente americano, Donald Trump, exerce sobre o Partido Republicano.

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Trump, forçado a reverter sua ferrenha oposição à liberação dos documentos diante da iminente rebelião de dezenas de deputados republicanos, que apontavam voto a favor, também foi contrariado em sua pressão sobre os Legislativos estaduais de Kansas e Indiana, dominados por seu partido, para que redesenhassem os distritos eleitorais a fim de garantir mais cadeiras a seus apoiadores nas eleições de meio de mandato em 2026. Também fracassou em seus esforços sobre seu partido para acabar com a ferramenta do filibuster no Senado, que permite à oposição ter voz na legislação aprovada na Casa, onde os republicanos são maioria.

Especialistas entrevistados pelo jornal The Wall Street Journal afirmam que há uma divisão sem precedentes na base de Trump, que parlamentares republicanos têm rompido o apoio silencioso e inquestionável ao presidente e estão “começando a gritar um pouco”, ainda que com cautela. Na semana passada, a deputada republicana Lauren Boebert, do Colorado, declarou que apoiaria a proposta sobre a liberação dos arquivos do caso Epstein para voto em plenário, contrariando publicamente o direcionamento de Trump, que se empenhou pessoalmente numa campanha contra adivulgação. Ela foi convocada à Casa Branca para uma conversa na Sala de Crise com o diretor do FBI, Kash Patel, e a secretária de Justiça, Pam Bondi, mas manteve-se firme.

A deputada Marjorie Taylor Greene, da Geórgia, apoiadora de longa data do presidente, também criticou abertamente o governo Trump nas últimas semanas e apoiou a divulgação dos arquivos. Em retaliação, o presidente fez uma série de ataques públicos e retirou seu apoio à deputada, declarando-lhe oposição nas primárias do partido para as eleições legislativas de 2026. Financiar adversários de dissidentes nas primárias do próprio partido é uma das armas preferidas de Trump para manter os republicanos sob controle.

‘Shutdown’ e ‘filibuster’

“Entendo que pessoas maravilhosas e conservadoras estão pensando em confrontar Marjorie nas primárias em seu distrito da Geórgia, que elas também estão fartas dela e de suas palhaçadas e, se a pessoa certa concorrer, terá meu apoio completo e inflexível”, escreveu Trump na rede social Truth Social na última sexta-feira.

Os arquivos de Epstein alimentam até hoje uma série de teorias sobre supostos encobrimentos e colaborações de figuras influentes da elite americana, numa lista que inclui o presidente. O caso, que implicou líderes políticos e personalidades dos dois lados do Atlântico, levou o Congresso a aprovar anteontem a lei que força o Departamento de Justiça a liberar todos os documentos relativos a ele.

Além do caso Epstein, a recente paralisação do governo americano (shutdown), que teve duração histórica de 43 dias, também expôs os limites do controle de Trump sobre sua base. O Senado, de maioria republicana, rejeitou os apelos de Trump para eliminar o filibuster, regra que frequentemente dá voz ao partido minoritário na elaboração de legislação ao exigir 60 votos para a aprovação da maioria dos projetos de lei.

Nesta disputa, Trump entrou em conflito com o senador republicano Lindsey Graham, da Carolina do Sul e um dos mais influentes do partido, entre outros, em conversas privadas sobre o filibuster. Segundo o Wall Street Journal, o presidente reclamou com assessores sobre o fato de os republicanos não estarem atendendo aos seus desejos.

Outro caso no qual a vontade de Trump foi contrariada por seus próprios correligionários foi a rejeição de sua iniciativa para redesenhar os mapas dos distritos eleitorais em Indiana, em um movimento já feito no Texas — e barrado pela Justiça local — para garantir a manutenção da maioria republicana na Câmara dos Deputados nas eleições de meio de mandato em 2026, quando o partido no poder tradicionalmente sofre um revés. Entre os reforços do presidente para persuadir legisladores locais a apoiarem o redesenho houve viagens do vice-presidente JD Vance ao estado, telefonemas de Trump e uma visita de legisladores de Indiana à Casa Branca. De nada adiantou. A mesma situação se repetiu no Kansas, onde parlamentares também resistiram à pressão para redesenhar os distritos.

Caio Rocha

Sou Caio Rocha, redator especializado em Tecnologia da Informação, com formação em Ciência da Computação. Escrevo sobre inovação, segurança digital, software e tendências do setor. Minha missão é traduzir o universo tech em uma linguagem acessível, ajudando pessoas e empresas a entenderem e aproveitarem o poder da tecnologia no dia a dia.

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