Call of Duty: Black Ops 7 Review
Desde seu anúncio, Call of Duty: Black Ops 7 foi visto como uma DLC de Black Ops 6 (2024), assim como Modern Warfare 3 (2023) foi para Modern Warfare 2 (2022). Essa nuvem duvidosa sobre a comunidade ganhou mais densidade à medida que rumores sobre o que esta sequência teria em conteúdo e estrutura.
Após muito mistério, apelos nostálgicos e mudanças inimagináveis em seu multiplayer (oriundos da presença de Battlefield 6), Call of Duty: Black Ops 7 chegou ao mercado no último dia 14 de novembro repleto de dúvidas, enquanto disputa a atenção com o retorno de Battlefield, seu principal concorrente, e com Arc Raider, que vem sendo a sensação do momento.
Confiando em seu legado imbatível e em mudanças desesperadas para manter as vendas de sua comunidade, será que Black Ops 7 vai conseguir êxito ou será apenas a constatação de que a franquia passa por uma grande crise de identidade, com lançamentos reciclados que parecem mais uma DLC, mas cobrados a preço cheio?
Confira mais uma análise do Combo Infinito e descubra se Call of Duty: Black Ops 7 é tudo isso mesmo!
Tudo menos Call of Duty

Entre os rumores por trás de Black Ops 7 estava uma missão que teria a presença de 32 jogadores, bem como o fato de você poder jogar a campanha sozinho ou de forma cooperativa com até 4 jogadores. Mas o que os rumores não revelaram foi o que esta campanha seria em termos de estrutura e game design.
Apelando para o lado nostálgico dos fãs, a Treyarch deu o protagonismo novamente a David Mason (filho de Alex Mason, de Black Ops 1 e 2), mas também trouxe de volta o icônico vilão Menendez. Isso era o suficiente para manter a comunidade totalmente empolgada com a nova campanha do segmento Black Ops.
Contudo, o que enxerguei com meus olhos apertados atrás de óculos já castigados pelo tempo foi qualquer coisa em estilo, direção e proposta de game design, menos algo que lembrasse Call of Duty. Isso vale especialmente para as campanhas de Black Ops até 2024, culminando em Black Ops 6.
Toda a nostalgia pelo retorno de figuras icônicas e cenários clássicos dos jogos anteriores acaba reduzida a 11 missões sem qualquer conexão real com os eventos que antecedem este novo título. A justificativa é um gás que afeta o psicológico de quem o inala, trazendo memórias, medos, traumas e mágoas à superfície.
No comando da equipe Spector 1, David Mason, Harper, Samuels e Fifity invadem a Guilda, uma nova organização criminosa que opera em Avalon. Assim que chegam ao complexo, Mason e seu time são encurralados e acabam inalando o gás. A partir desse ponto, estive diante da pior campanha já criada desde a estreia de Call of Duty nos videogames.
Missões e narrativa


Com uma estrutura com grande foco para a experiência multiplayer, a campanha de Black Ops 7 pode ser jogada por até 4 jogadores, com um game design, level design e design de missões idênticos ao que o modo Zombies é atualmente, como, por exemplo, um sistema que aumenta a raridade e melhora a eficiência da sua arma – algo que remete ao Perk-a-Punch (mecânica em que você evolui sua arma no modo Zombies).
Há também a opção de jogar sozinho, mas o jogo não permite pausar a campanha. Mesmo indo solo, fica evidente que toda a estrutura de inimigos e ritmo das missões foi pensada para uma experiência totalmente multiplayer. Um exemplo simples: se você precisar ir ao banheiro, ao voltar será removido da missão por inatividade, como se estivesse em uma sessão online comum.
Além disso, ao jogar a campanha individualmente, você não vê os outros três integrantes da equipe em ação controlados por IA, algo que sempre fez parte da franquia. Eles apenas conversam pelo rádio enquanto você enfrenta ondas de inimigos que lembram muito mais as hordas do modo Zombies. Isso não acontece quando há mais três jogadores participando, já que o jogo completa automaticamente o esquadrão por meio da busca de partida.
Alternando entre missões em cenários lineares, no estilo tradicional da franquia, e outras de grande escala, a campanha de Black Ops 7 soa como um produto sem alma, quase uma demonstração de como jogos criados integralmente por IA poderiam ser.
Nesse ponto, até é positivo que a Treyarch e a Raven Software tenham entregue algo tão caro e tão frágil, pois serve como alerta para qualquer estúdio que cogite substituir processos criativos pelo uso indiscriminado de IA.
Um produto sem profundidade


E é importante deixar claro que não estou afirmando que esta campanha foi feita por IA, embora alguns calling cards do modo multiplayer passem muito essa impressão.
Basicamente, as missões em áreas de grande escala se resumem a coleta, proteção de área e algumas boss fights desinteressantes; enquanto isso, em momentos em que a equipe de Mason está sob efeito da toxina, somos levados a cenários antes vistos na franquia, com direito a boss fight ao melhor estilo Resident Evil e modo Zombies. É de uma falta de criatividade e preguiça que chega a ser patético ver o que vi ao longo destas 11 missões deste novo Black Ops.
Se isso já não fosse castigo suficiente, David Mason e sua equipe formam um quarteto sem carisma, forçado em uma missão que tenta usar a figura de Menendez como atrativo, mas falha completamente e não entrega nada próximo do que se esperava. Enquanto isso, a vilã surge apenas nos minutos iniciais e nos instantes finais, quase como um detalhe esquecido. Para completar o pacote, os inimigos são genéricos, numerosos e acompanhados de uma inteligência artificial medíocre.
Mesmo assim, em meio ao caos da campanha de Black Ops 7, existem pontos interessantes, como o sistema de habilidades adquiridas nas caixas espalhadas pelos cenários. Elas adicionam alguma variedade ao gameplay, permitindo realizar um super salto, ficar invisível ou ativar um escudo protetor. Há também equipamentos especiais, como o gancho que facilita a locomoção e o acesso a áreas mais altas. No fim, são adições bem-vindas, mas incapazes de mudar a imagem geral deixada pela campanha de BO7.
Ainda tem mais depois da campanha


Após enfrentar as 11 missões da campanha de Call of Duty: Black Ops 7, ainda há o que fazer. Ao fim da campanha e dos créditos, você é apresentado ao “Fim da Jornada”, onde você assume o controle de um dos membros da Spector em uma última missão de pôr fim, de vez, ao que restou da Guilda.
De volta ao mapa de Avalon, o novo cenário de Warzone 2, você deve completar diversas missões ao lado de três outros jogadores. A proposta lembra o Warzone tradicional, mas sem círculo se fechando e sem a presença de adversários reais. Esse modo, chamado Fim da Jornada, funciona como uma forma de manter o jogador focado em experiências single-player mais engajado dentro do jogo, especialmente quem não se identifica com o multiplayer, o modo Zombies ou o próprio Warzone.
No geral, a proposta funciona, já que há um sistema de progressão de armas, equipamentos e níveis totalmente integrado aos demais modos. Porém, mesmo interessante na teoria, o endgame da campanha sofre na prática com missões genéricas, algo ainda mais evidente depois de uma experiência principal arrastada e pouco envolvente.
Um Black Ops 6 com skin futurista


Uma das minhas maiores críticas ao multiplayer de Black Ops 6 foi a mudança de identidade no fluxo das partidas. O multiplayer de Call of Duty sempre se destacou por oferecer confrontos frenéticos, mas com espaço suficiente para o jogador pensar em sua estratégia e buscar seus streaks. Desde Modern Warfare 3 (2023), porém, a Activision adotou uma abordagem ainda mais acelerada, focada em mapas menores que ganharam enorme popularidade graças à alta taxa de retenção que cenários como Shipment e Nuketown proporcionam.
Essa filosofia, consolidada em BO6 com a introdução do Omnimovement, transformou o multiplayer em uma sequência de combates rápidos e pouco estratégicos, algo que Black Ops 7 retoma com pequenas mudanças que não alteram a essência dessa nova metodologia. Hoje, ir bem no multiplayer depende quase exclusivamente da movimentação, com slides, saltos em todas as direções e o novo all jump, que permite impulsos ao saltar pelas paredes.
Call of Duty: Black Ops 7 enfrenta nova polêmica após uso de IA em artes do jogo
Apesar de Black Ops 7 aprimorar algumas mecânicas do jogo anterior e trazer mapas um pouco mais abertos, a dinâmica frenética e caótica continua sendo o núcleo do multiplayer. Ainda não existe qualquer espaço para respirar ou pensar no que fazer após uma boa sequência de eliminações. Dessa forma, quem amou o ritmo alucinado de BO6 encontrará aqui uma versão mais refinada do mesmo estilo. Por outro lado, quem rejeitou o rumo tomado no ano passado provavelmente terá a mesma frustração agora.
No fim das contas, o multiplayer de Call of Duty passa por uma perda significativa de identidade. Os estúdios parecem guiados pelos números, enquanto deixam de lado a criação de uma experiência que realmente contemple os diferentes perfis de jogadores. Para quem viveu a era de ouro da franquia, resta torcer para que a Infinity Ward siga por outro caminho no próximo ano, assim como fez em 2019 ao entregar uma proposta mais tática e realista.
Aqui a Treyarch não erra


Depois de um modo Zombies consistente em Black Ops 6, a Treyarch voltou a apostar na nostalgia ao trazer de volta o icônico quarteto de protagonistas de Black Ops 3, reconhecido por muitos como o melhor elenco da história do Zombies. Felizmente, diferente do que aconteceu na campanha, o estúdio soube aproveitar esses personagens neste novo capítulo, entregando um easter egg profundo dentro do maior mapa já criado para o modo.
Mantendo a estrutura sandbox introduzida em Black Ops 6, este novo Zombies amplia a escala com a adição de um veículo que permite explorar as diversas regiões do mapa, enfrentando novos desafios e resolvendo puzzles criativos que culminam em uma boss fight épica. E, para quem não se identifica com o Zombies tradicional, o modo Dead Ops oferece 80 níveis e mais de 20 arenas em uma experiência totalmente arcade, com câmera isométrica e também opções em primeira pessoa.
Mesmo mantendo a excelência, os dois modos não receberam grandes evoluções ou adições realmente significativas. A Treyarch fez o melhor possível dentro do curto intervalo desde o lançamento de BO6 e, ainda assim, entregou um ótimo trabalho no Zombies. A expectativa para os próximos mapas continua muito alta.
Mas afinal, Call of Duty: Black Ops 7 é tudo isso mesmo?
Call of Duty: Black Ops 7 é mais uma prova do novo padrão da Activision, que passou a lançar dois jogos seguidos de uma mesma franquia, como aconteceu com Modern Warfare em 2022 e 2023. O resultado é um produto claramente direcionado ao multiplayer, enquanto a campanha não recebeu o tempo necessário para se transformar em algo minimamente sólido. O modo solo apenas ilude a comunidade com nostalgia e gráficos belos em suas cenas, mas deixa de lado o verdadeiro núcleo narrativo da saga Black Ops.
Do outro lado, o multiplayer continua divisivo e controverso, destoando daquilo que Call of Duty um dia representou. Já o Zombies, reforçado pela presença do Dead Ops, cumpre bem seu papel e entrega conteúdo satisfatório para quem acompanha o modo de longa data.
No fim das contas, Call of Duty: Black Ops 7 reflete a perda de identidade da franquia, que segue reciclando ideias em vez de criar novas tendências cobrando caro por isso.
Veredito:
Call of Duty: Black Ops 7 aposta em nostalgia e no retorno de personagens icônicos, mas entrega a pior campanha da franquia, multiplayer reciclado e um Zombies que carrega tudo nas costas. Falta alma, sobram decisões apressadas. A identidade da série está em risco.
– João Antônio
Recebemos Kirby Air Riders gratuitamente para review e agradecemos à Activision e o Xbox pela confiança.



Publicar comentário