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CEO da Furia fala sobre diferentes momentos da equipe

CEO da Furia fala sobre diferentes momentos da equipe

O StarLadder Major Budapest 2025, a principal competição do profissional de Counter Strike começa no dia 24 de novembro e o Brasil está presente com 7 representantes diferentes. Entre eles, a FURIA, do CEO Jaime Pádua, capitaneada por Gabriel ‘FalleN’ Toledo, é uma das favoritas ao troféu. A equipe vem de uma campanha com 4 títulos internacionais esse ano e, apesar do pouco tempo de treino entre as competições, é a equipe com a melhor pontuação dessa edição do Major.

Além da campanha no Counter Strike, a equipe está presente em várias outras categorias como League of Legends, Valorant e Rocket League. A Furia também foi a ganhadora da Kings League Brasil e se prepara para enfrentar a mexicana Peluche Calegari na Kings League Américas. Em entrevista ao GLOBO, o CEO Jaime Pádua disse que vê que “o jogo virou”, agora que as equipes de eSports integram competições de esportes tradicionais.

– Antes a gente tinha essa bolha do esporte eletrônico e a gente querendo levar a marca da FURIA e dos eSports para fora dessa bolha, mas agora os clientes querem se conectar com esses movimentos.

Equipe masculina de Counter Strike da Furia — Foto: Divulgação HLTV

Hoje, é possível dizer que o Counter Strike é uma das principais vitrines da Furia, né? Como ela reflete nas outras categorias?

A gente começou de fato com Counter Strike em 2017 e a gente tinha o sonho de levar o Brasil para o mundo, de disputar campeonatos internacionais e de ser uma organização profissional. A gente conseguiu sair do Brasil e para Estados Unidos disputar os campeonatos da Série B, Série C e de repente a gente está lá disputando os maiores títulos. E agora, vivendo o melhor momento da Furia no Counter Strike, com o FalleN como nosso capitão. A gente sempre soube que o CS era de fato a nossa principal bandeira que a gente carregava dentro do Brasil.

E o que vocês estão levando de aprendizado dos eSports para esse movimento de integrar categorias tradicionais?

A gente começou como Counter Strike e a princípio parecia muito difícil você migrar de um Counter Strike pra um LoL, pra um Rocket League. Conforme vamos ficando mais experientes, vemos que o DNA, a estrutura, a operação e cultura que você precisa para cada esporte é meio que parecido. Você precisa ter estrutura, ter investimento. Eu sempre fui muito apaixonado pelo futebol, futebol americano, NBA. Nós temos que olhar para eles e aprender com o que fizeram de certo ou errado. O cara que gosta de Counter Strike também, normalmente, gosta de futebol.

E tem algo do meio empreendedor dos esportes tradicionais que você acha importante evitar?

A indústria de eSports é muito nova é uma chance dela se construir de uma maneira diferente. Eu tenho meu jeito de lidar com outros CEOs, outros donos de organização, que é de uma maneira sempre positiva. Sou muito bem relacionado com os maiores times do mundo e é bem provável que as grandes organizações estejam aqui pelos próximos 5, 10, 20 anos. Se a gente tiver que fazer algum negócio juntos, é melhor que seja de uma maneira positiva, porque a gente vai ter que fazer muitos negócios pela frente, ou a gente destruir tudo agora inicialmente. Sabendo que a gente vai estar na indústria por muitos anos, por que não trabalhar de uma maneira em que todos estejam felizes e ganhando?

Em 2022 você falava muito sobre internacionalizar a equipe. Hoje, em 2025, você acha que já chegou nesse ponto que falava antes?

Acredito que a gente está no processo. Acredito que pra competir em nível internacional, você precisa estar disposto a trazer jovens atletas de todo mundo. Temos o recente exemplo do molodoy, que a gente o traz lá do Cazaquistão para jogar na nossa principal line (equipe), que é a de CS. A gente recebe pressão de tudo quanto é lado e de repente dá certo.

Mas existiu algum ruído de ter pessoas que não são brasileiras jogando no time principal?

Acredito que sempre rola isso no Brasil, né? Acho que isso chegou (até a mim) muito mais de fora do que de dentro. Óbvio que nosso interesse principal é dar preferência para os brasileiros, falo isso abertamente, porém, quando isso não é possível, eu vou olhar pro mundo e a gente tem que estar aberto para fazer isso porque a gente quer competir.

Você é um cara que sempre jogou videogame, jogava bastante Dota. Como foi essa transição para CEO?

Eu sempre fui de jogar muito, desde criança. Tenho orgulho de olhar pra trás e ver que minha vida não mudou tanto assim. Só mudou a responsabilidade de estar no computador, de jogar. É mais uma mistura também com a trajetória profissional. Eu sou economista, trabalhei muito no mercado financeiro, e percebi que existia essa oportunidade de conectar essa bagagem. Acabou que isso traz um nível de profissionalismo que eu não via tanto no cenário de eSports, principalmente no Brasil. Hoje, felizmente, eu e meus pares evoluímos muito. Os nossos concorrentes estão em um nível bem mais legal, mas quando a gente começou em 2017, era bem semiprofissional.

Equipe da Furia — Foto: Divulgação HLTV
Equipe da Furia — Foto: Divulgação HLTV

E tem alguma coisa que você enxerga como próximo passo para popularização da Furia?

Antes a gente tinha essa bolha do eSports e a gente querendo levar a Furia para fora dessa bolha. Nós conectamos creators, influencers para levantar essa bandeira. A medida que o esporte eletrônico vai ficando popular, ou seja, você tem essa conexão com a Kings League, que é extremamente popular, vai ficando mais mainstream. Hoje eu recebi uma mensagem super legal de um amigo que falou que a babá dele estava contando o que aconteceu com a Furia na Kings League. E a gente está falando de Furias em momentos diferentes, com pessoas diferentes. Quando isso acontece, a gente vê que a bolha estourou e que agora se está falando em todos os lugares.

Sobre os atletas, a tendência é que sejam pessoas mais jovens. Como vocês trabalham essa mistura de um a faixa de idade mais enérgica com a frustração do esporte?

Sendo bem transparente, quando a gente fala do esporte tradicional, tipo futebol, você pega atletas que jogam quase profissionalmente desde os sete anos, desde os oito. Ele já está na escolinha, já tem horário pra cumprir e respeitar o professor. Ele já tem esses compromissos ao longo da vida que vai formando até ele se tornar um profissional com 17, 18 anos. Nos eSports não é o cenário que a gente está acostumado. Às vezes, a gente tem um jovem extremamente talentoso que vai ter a primeira oportunidade profissional com 17, 18 anos. A gente pega um atleta que não se preparou desde a infância e, em algumas situações, a gente tem que de fato prepara-lo. A gente tem uma equipe de profissionais de fisioterapia, médico, psicólogo, nutricionistas pra de fato ensinar sobre o que é ser profissional, entender como lidar com treinador, respeitar horário, disciplina. A gente tem um pouco mais de dificuldade nessas primeiras etapas, porém, podemos preparar esse atleta da maneira que a gente gostaria.

E quando isso foi uma necessidade? Em qual momento vocês viram que precisavam prestar mais atenção nisso?

Então, eu não sou um ex-jogador que monta uma organização de eSports. Eu estava trabalhando e ralando igual todo mundo. Quando você passa a lidar com jovens que não tem essa mentalidade, você percebe e fica “opa, pera aí. Eu vou ter que educar esse menino aqui”. E às vezes não é nem sobre jogo. Eu tenho que ensinar esse atleta a como cuidar do dinheiro dele, ensinar a ser mais adulto, lidar com torcida e com a família. Existe um trabalho muito grande ali por trás e hoje, se você quiser ser um profissional de alto nível dentro do esporte, só ser um bom jogador não basta.

Como está a sua percepção sobre Olimpíadas envolvendo esportes eletrônicos?

Eu acredito que o debate ainda está bem defasado sobre como ele vai acontecer. Acredito que é importante para a Olimpíada se conectar com esse público, porém, eles precisam ter um pouco mais de estratégia em relação ao como operacionalizar isso. Eles não estão se conectando com os principais jogos da indústria. Às vezes existe um receito com Counter Strike, Valorant ou algum outro jogos que são extremamente populares e acaba se afastando de onde está o principal público do mercado de esportes eletrônicos. Seria legal se fosse feito de uma maneira inteligente, de uma maneira estratégica. Porém, esse pensamento precisa evoluir ao nível profissional, de entendimento de mercado, que eu não vejo acontecendo por enquanto.

Tem alguma modalidade que você quer incluir na Furia?

Eu tenho a felicidade de dizer que a Furia é uma organização extremamente bem-posicionada internacionalmente quando estamos falando de eSports. Nós estamos na Kings League, na Porsche Cup. Mas de fato esse sonho não muda. Quem sabe um dia ter um time de futebol tradicional. O que eu acho que vai acontecer naturalmente é você ligar a TV aberta num dia de domingo à tarde e em vez de estar só passando Corinthians e Palmeiras, vai ver Furia e Vitality.

Esse ano a equipe feminina de Counter Strike da Furia foi proibida de participar de uma competição por conta de uma regra da própria Valve. Como está sua percepção atualmente sobre esse episódio?

O conflito principal declarado era relacionado às classificatórias pro Major. Tinha o RMR, que era um modelo onde os times disputavam o campeonato valendo vaga para jogar o Major, que é o principal campeonato de Counter Strike no ano. Acontece que agora não existe mais a RMR, ou seja, esse conflito direto ali já não existe mais e agora existe essa possibilidade de vocês somar pontos jogando outros campeonatos.

Então, felizmente, são poucos campeonatos, pouquíssimos campeonatos que o time principal da Furia Internacional disputaria e que o time de CS feminino teria interesse em participar também. Então, hoje em dia essa barreira já não é tão grande igual era antes, mas quando acontece eu acredito que, de fato, deveria melhorar ou talvez mudar essa regra ou tentar um entendimento diferente.

Eu sei que existe essa questão da integridade competitiva, mas é muito legal que as meninas também tivessem as mesmas oportunidades de jogar um campeonato que está o time da Furia internacional. Elas vão dar a vida pra ganhar, eles vão dar a vida pra ganhar. Não tem nenhum interesse em beneficiar ninguém. Mas assim não teve mudanças muito claras em relação a isso, apenas mudanças do formato que acaba beneficiando essa ausência de entre os times da mesma organização. Então, por enquanto, tá mais saudável, mas sem uma mudança efetiva na regra.

Caio Rocha

Sou Caio Rocha, redator especializado em Tecnologia da Informação, com formação em Ciência da Computação. Escrevo sobre inovação, segurança digital, software e tendências do setor. Minha missão é traduzir o universo tech em uma linguagem acessível, ajudando pessoas e empresas a entenderem e aproveitarem o poder da tecnologia no dia a dia.

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