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Como seria um ataque de Trump à Venezuela? Entenda em mapas e infográficos

Como seria um ataque de Trump à Venezuela? Entenda em mapas e infográficos

E se os Estados Unidos invadirem a Venezuela?

Disparidade militar entre EUA e Venezuela é abissal: enquanto Washington tem as Forças Armadas mais poderosas do mundo, Caracas ocupa apenas a 50ª posição. Crédito: Amanda Botelho e Gabriella Lodi/Estadão

O porta-aviões USS Gerald R. Ford, o maior do mundo, chegou às águas próximas da América Latina nesta semana, intensificando uma campanha militar que já matou mais de 75 pessoas a bordo de lanchas e semissubmersíveis no Mar do Caribe.

O presidente Donald Trump sugeriu repetidamente que ataques terrestres poderiam ser o próximo passo, mas nos últimos dias negou estar considerando um ataque militar iminente dentro da Venezuela.

Caso o governo Trump decida realizar ataques terrestres, as forças americanas poderiam escolher entre diversos alvos, desde bases militares venezuelanas a laboratórios de refino de cocaína, pistas de pouso clandestinas ou acampamentos de guerrilheiros, de acordo com ex-militares e oficiais antidrogas americanos e venezuelanos, além de analistas de defesa. Mas o impacto potencial de tais ataques permanece incerto.

Veja abaixo em mapas e infográficos como isso poderia acontecer

Possíveis alvos dos EUA na Venezuela

Embora Trump tenha sinalizado a possibilidade de ataques terrestres contra narcotraficantes na Venezuela, ainda não está claro se ele teria como alvo locais de contrabando de cocaína ou o próprio governo de Nicolás Maduro.

Trump alegou que o ditador e seus principais assessores são líderes de uma organização de narcotráfico, o Cartel de los Soles, que envia drogas para os Estados Unidos. O governo americano classificou o Cartel de los Soles como um grupo narcoterrorista e poderia usar isso como justificativa para atacar diretamente o governo Maduro, numa tentativa de pressioná-lo ou removê-lo do poder à força.

Segundo Jim Stavridis, um almirante aposentado do Exército dos EUA que supervisionou as operações na região de 2006 a 2009, as Forças Armadas da Venezuela “atrofiaram” nos últimos anos, mas ainda possuem armamento e capacidade suficientes para que seja improvável que o governo Trump ordene qualquer incursão terrestre significativa.

“Espere por ataques cinéticos de precisão contra alvos relacionados ao narcotráfico e à capacidade militar e, se isso não surtir o efeito desejado, contra a liderança”, disse Stavridis. “Acho que o objetivo aqui é convencer Maduro de que seus dias estão contados, mas convencê-lo disso exigirá uma quantidade considerável de ataques contra a infraestrutura da Venezuela.”

Ainda de acordo com o analista, Maduro poderia se entrincheirar. Isso deixaria o governo Trump com a possibilidade de deliberar se deve realizar ataques contra a segurança de Maduro ou uma missão de Operações Especiais para capturá-lo ou matá-lo, ainda que uma operação desse porte seja de alto risco..

Para Stavridis, os Estados Unidos poderiam começar com ataques a aeroportos ou portos marítimos identificados como potenciais centros de distribuição de drogas. Também poderiam atacar pontos de embarque perto da fronteira da Venezuela com a Colômbia, de onde se originam quantidades significativas de cocaína. Mas o Pentágono também gostaria de atacar as defesas aéreas venezuelanas para proteger suas próprias aeronaves, disse o almirante aposentado.

As forças americanas também poderiam alvejar pistas de pouso clandestinas, como no estado de Apure, de acordo com um ex-agente da DEA (Administração de Repressão às Drogas dos EUA) na Venezuela, que falou sob condição de anonimato para discutir detalhes sensíveis. Os traficantes costumam armazenar cocaína perto dos “estacionamentos” onde aviões da América Central pousam e aguardam para carregar as drogas.

As forças americanas também poderiam alvejar pistas de pouso na região de Catatumbo, que tem visto um aumento no tráfego aéreo em meio à repressão americana aos barcos de narcotráfico, de acordo com um ex-capitão do exército venezuelano, agora exilado, que falou sob condição de anonimato por questões de segurança. Grandes depósitos de drogas também podem ser encontrados no estado de Sucre, afirmou o ex-oficial militar.

Destruir o fornecimento de drogas poderia neutralizar o poder econômico de militares e políticos corruptos, disse o ex-capitão do Exército. Mas, se o objetivo for atingir diretamente as forças de segurança de Maduro, os militares dos EUA poderiam mirar na poderosa agência de contrainteligência militar da Venezuela, a Direção-Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM).

Como Maduro poderia reagir

As Forças Armadas da Venezuela são bem armadas, com algumas armas avançadas adquiridas durante o governo do ex-presidente Hugo Chávez, que faleceu no cargo em 2013. Acredita-se que esse armamento inclua um sistema de defesa aérea S-300VM de fabricação russa.

Mas esse sistema de defesa aérea está apenas parcialmente operacional no momento e nunca foi projetado para ser usado contra os Estados Unidos, afirmou Andrei Serbin Pont, do grupo de pesquisa latino-americano CRIES.

De acordo com o Global Firepower, a Venezuela possui 109.000 militares da ativa. Mas o ex-oficial militar venezuelano afirmou que esse número provavelmente é menor.

Em 2018, a Venezuela tinha menos de cinco caças Sukhoi russos em operação, disse o ex-oficial militar venezuelano. Ele argumentou que Maduro não possui capacidade militar nem apoio popular para travar uma guerra contra os EUA.

“Não estou dizendo que não haverá resistência”, disse ele, “mas não será um ataque contra as forças americanas”.

Figuras da oposição venezuelana, analistas políticos e um ex-funcionário do regime disseram a diplomatas americanos da Unidade de Assuntos da Venezuela, sediada em Bogotá, que o governo Maduro está cada vez mais preocupado com as operações militares dos EUA, mas acredita que pode superar as tensões e se manter no poder, de acordo com documentos internos do governo obtidos pelo The Washington Post. O Departamento de Estado não respondeu a um pedido de comentário.

Esses observadores da Venezuela, segundo os documentos, descartaram em grande parte a possibilidade de um ataque americano a locais de tráfico de drogas na Venezuela levar os militares a se voltarem contra Maduro.

Qual é o objetivo final de Trump?

Mesmo que ataques sejam realizados na Venezuela, é improvável que isso mude algo significativo no comércio de drogas com os EUA, disseram autoridades americanas, atuais e antigas, familiarizadas com a região.

Um general aposentado afirmou que o tráfico de drogas proveniente da Venezuela é principalmente de cocaína, produzida inicialmente na Colômbia e enviada para a Europa ou para as ilhas do Caribe — não para os Estados Unidos.

“A ideia de que se vai interromper o fluxo de drogas atacando a Venezuela é pura balela”, disse o general, falando sob condição de anonimato para poder ser franco sobre o governo Trump.

Em uma reunião confidencial com alguns membros do Congresso na semana passada, o Secretário de Estado Marco Rubio e o Secretário de Defesa Pete Hegseth disseram que o governo não está se preparando para atacar a Venezuela diretamente e que não possui uma justificativa legal adequada para fazê-lo, de acordo com pessoas familiarizadas com a reunião.

Um funcionário americano em exercício, familiarizado com as deliberações do governo neste ano, disse não ter certeza se Trump autorizará ataques na Venezuela, ou por quanto tempo os ataques no mar poderão continuar. Assim como em outras ações militares realizadas por Trump, disse o funcionário, o presidente pode declarar vitória abruptamente e seguir em frente. / W. POST

Caio Rocha

Sou Caio Rocha, redator especializado em Tecnologia da Informação, com formação em Ciência da Computação. Escrevo sobre inovação, segurança digital, software e tendências do setor. Minha missão é traduzir o universo tech em uma linguagem acessível, ajudando pessoas e empresas a entenderem e aproveitarem o poder da tecnologia no dia a dia.

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