entenda os fenômenos climáticos que anteciparam o auge do verão no Sudeste do Brasil
O “calorão” que o Sudeste brasileiro tem sofrido na pele — e que vem lotando o litoral — nos últimos dias do ano tem explicação em uma combinação de fenômenos climáticos que anteciparam o auge do verão. Meteorologistas ouvidos pelo GLOBO explicam que as altas temperaturas são típicas da estação, mas vêm sendo intensificadas pelo excesso de umidade, que retém a radiação solar e deixa o tempo abafado, associado a um bloqueio atmosférico com ar seco sobre a região, especialmente Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Os dois eventos juntos criaram uma espécie de redoma quente nesses estados.
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O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu mais um alerta vermelho, de grande perigo, para ondas de calor nesses três estados e ainda em parte de Goiás, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul, com previsão até o fim do dia desta terça-feira. Uma onda de calor é definida quando a temperatura fica pelo menos cinco graus acima de sua média histórica por pelo menos três dias seguidos. O fenômeno vem acontecendo, em boa parte do país, desde o último dia 23.
Na capital paulista, por exemplo, em um intervalo de apenas 96 horas, o recorde de temperatura máxima para o mês de dezembro foi superado três vezes, culminando nos 37,2°C registrados no domingo segundo o Inmet.
Especialistas explicam que em dezembro o Sudeste costuma viver o auge de sua estação chuvosa, e as pancadas de chuva frequentes funcionam como moderador térmico, impedindo que o sol aqueça a superfície de forma contínua. Este ano, no entanto, o bloqueio atmosférico rompeu o padrão, atuando como uma espécie de “tampa” invisível na atmosfera. Em suas “bordas”, pode chover, mas em seu centro, o ar seco desce para a superfície, dissipa as nuvens e impede a entrada de frentes frias. O resultado é radiação solar incidindo diretamente sobre o asfalto e o concreto, elevando as temperaturas.
O meteorologista Humberto Barbosa, coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade Federal do Alagoas, explica que uma grande massa de ar seco no Golfo do México formou um bloqueio na altura da Linha do Equador. Isso aumentou a umidade na Amazônia e a intensidade dos “rios voadores”, que carregam esse vapor d’água para o Centro-Sul do Brasil. O resultado foi o aquecimento da troposfera (camada mais baixa da atmosfera). Mas, no Sudeste, o bloqueio atmosférico próximo à costa manteve o calor “armazenado”, sem chuva.
— Esse calor armazenado dá essa sensação de abafado — diz Barbosa.
Nas próximas semanas, o clima deve entrar em “neutralidade”, quando não há anomalias acentuadas e as temperaturas e chuvas ocorrem conforme o previsto para cada estação. Por isso, os próximos dias deverão ser de calor e pancadas de chuva, em um cenário típico de verão. Essa é a previsão para a virada de ano nas principais capitais do Sudeste.
— Significa que a gente tende a ter as características da estação do ano: o verão é quente, tem umidade e pancadas de chuva, principalmente à tarde — diz a meteorologista Andrea Ramos.
Embora usuais para a estação, as características levam a um cenário de risco. Com o enfraquecimento do bloqueio atmosférico, há chance de fortes temporais. A meteorologista Estael Sias, da MetSul, detalha a transição:
— Com o ar quente e recordes de calor, a tendência é de a chuva encontrar o ar quente e formar temporais. Então, acredito que a gente tenha um regime de chuva, a partir de agora, gradativamente nos próximos dias, em São Paulo.
Andrea Ramos destaca que as mudanças climáticas aumentam a intensidade e a frequência de eventos extremos, como as ondas de calor. Mesmo sem previsão de bater o recorde de 2024, ano mais quente da história, o calor deve seguir em patamares acima da média histórica.
— A gente está na era dos extremos, cada vez mais teremos ondas de calor, de frio, incêndios e chuvas de forma mais intensa. Essa continua a tendência. Janeiro no Brasil teremos temperaturas acima da média, principalmente na parte central. E mais chuvas no Rio Grande do Sul — diz.
Os modelos do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) confirmam a previsão de um janeiro quente. O mapa de anomalias climáticas previstas indica calor acima da média no Centro-Oeste, em Minas, São Paulo, interior da Bahia e outras regiões do Nordeste e Sul do país.



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