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Nasa divulga primeiras imagens do cometa interestelar 3I/ATLAS; veja fotos

Nasa divulga primeiras imagens do cometa interestelar 3I/ATLAS; veja fotos

Fotografias de um cometa com um mês de idade normalmente não alimentam teorias da conspiração sobre uma iminente invasão alienígena. Mas este não é um cometa comum: o 3I/ATLAS veio de além do sistema solar e agora está a caminho de volta para as extensas regiões interestelares da Via Láctea. A recente paralisação do governo federal dos EUA, que durou 43 dias, aumentou ainda mais o mistério.

Naves espaciais próximas a Marte, incluindo uma da NASA, apontaram suas câmeras para o 3I/ATLAS quando ele passou rapidamente pelo planeta vermelho no início de outubro. No entanto, durante o período de paralisação do governo americano, as imagens capturadas pela espaçonave da agência permaneceram inacessíveis. Funcionários da NASA sequer reconheceram a existência desses registros.

A agência finalmente divulgou as imagens na quarta-feira, permitindo que o mundo inteiro pudesse vê-las. “Gostaria de abordar os rumores logo de início”, disse Amit Kshatriya, administrador associado da NASA, durante a coletiva de imprensa. “Este objeto é um cometa. Ele tem a aparência e o comportamento de um cometa.”

A partir do canto superior esquerdo: 3I/ATLAS observado pela missão SOHO da ESA/NASA em 15 e 16 de outubro; visto pela sonda Lucy em 16 de setembro; visto como uma combinação de imagens de 11 a 25 de setembro tiradas pela sonda STEREO-A; e observado pela sonda orbital de Marte MAVEN em 9 de outubro — Foto: Observatório Lowell/Qicheng Zhang; NASA/Goddard/SwRI/JHU-APL; NASA/Observatório Lowell/Qicheng Zhang; NASA/Goddard/LASP/CU Boulder

Ele e outros funcionários apresentaram uma série de imagens feitas por diferentes espaçonaves, entre elas o Mars Reconnaissance Orbiter, a missão Lucy — que tem como objetivo sobrevoar asteroides presos na órbita de Júpiter — e o Observatório Solar e Heliosférico. “É como se nossa frota estivesse em um jogo de beisebol, assistindo à partida de diferentes pontos do estádio”, disse Tom Statler, cientista-chefe da NASA para pequenos corpos do sistema solar. “Todo mundo tem uma câmera e tenta fotografar a bola, mas ninguém tem uma visão perfeita, e cada um usa um equipamento diferente.”

A imagem capturada por Lucy mostra o cometa retroiluminado. “Não conseguiríamos obter essa perspectiva a partir da Terra”, disse Statler. As diversas imagens feitas por espaçonaves e telescópios terrestres permitirão aos cientistas montar uma visão tridimensional do objeto.

No sentido horário, a partir do canto superior esquerdo: 3I/ATLAS observado pela missão SOHO da ESA/NASA em 15 e 16 de outubro; visto pela sonda Lucy em 16 de setembro; registrado em combinação de imagens entre 11 e 25 de setembro pela sonda STEREO-A; e observado pela MAVEN, em órbita de Marte, em 9 de outubro. Crédito: Observatório Lowell/Qicheng Zhang; NASA/Goddard/SwRI/JHU-APL; NASA/Observatório Lowell/Qicheng Zhang; NASA/Goddard/LASP/CU Boulder.

As medições mostram que o cometa é incomum em alguns aspectos quando comparado aos que se formaram dentro do sistema solar. Mas nenhuma dessas peculiaridades indica que ele tenha sido enviado por uma civilização alienígena.

Diferenças curiosas, mas nada extraterrestre

“Não detectamos nenhuma assinatura tecnológica”, afirmou Nicola Fox, administradora associada da diretoria de missões científicas da NASA, usando o termo preferido por cientistas para indicar possível tecnologia extraterrestre. Statler explicou que o 3I/ATLAS apresenta diferenças notáveis em relação aos cometas locais, como a proporção de dióxido de carbono para água e a proporção de níquel para ferro. A luz refletida pela poeira expelida pelo cometa era “incomum”, segundo ele, sugerindo uma distribuição de tamanhos dos grãos distinta.

Mas, acrescentou, essas diferenças são como o que um apreciador de café Kona havaiano notaria ao experimentar uma bebida de outra região. “É diferente, mas ainda é café”, disse.

A câmera de alta resolução da sonda Mars Reconnaissance Orbiter capturou uma imagem relativamente próxima, a cerca de 30 milhões de quilômetros. No entanto, a câmera foi projetada para fotografar a superfície brilhante de Marte. A imagem mostra apenas um centro luminoso e a nuvem de gás e poeira conhecida como coma. “É uma imagem borrada”, disse Alfred McEwen, professor de geologia planetária da Universidade do Arizona e até recentemente o principal investigador da câmera. “A espaçonave foi projetada para ser estável por mais de 10 milissegundos para fotografar Marte, mas isso equivale a uma exposição de três segundos.”

Com a distorção, provavelmente não será possível obter estimativas mais precisas do tamanho do núcleo. Em julho, cientistas que utilizavam o Telescópio Espacial Hubble estimaram que o cometa teria até 5,6 km de diâmetro — possivelmente apenas 427 metros. Na ocasião, ele estava a mais de 435 milhões de quilômetros da Terra e do Hubble. Embora a nova imagem possa trazer informações adicionais, disse McEwen, “não há nada óbvio que se destaque”.

Ele acrescentou: “Definitivamente parece um cometa. Sim, está desfocado. Tem coma. Não parece uma espaçonave.”

O cometa foi avistado pela primeira vez em julho por telescópios terrestres e, no mês passado, fez sua maior aproximação ao Sol, passando rente à órbita de Marte. Os cientistas sabem que ele veio do espaço interestelar devido à sua alta velocidade, superior a 240 mil quilômetros por hora. Agora, segue em rota de fuga para fora do sistema solar.

Avi Loeb, astrofísico de Harvard, ajudou a ampliar o interesse pelo 3I/ATLAS ao especular que o objeto poderia ter sido enviado por extraterrestres, devido às suas peculiaridades. Kshatriya disse que considerou a atenção positiva. “Isso expandiu a mente das pessoas, fazendo-as pensar em quão mágico o universo pode ser”, afirmou.

Ele observou que, meses atrás, cientistas da NASA apresentaram resultados sobre uma rocha intrigante em Marte que poderia conter sinais de vida passada. O cometa ficou fora do campo de visão terrestre por alguns meses, pois estava do outro lado do Sol.

“Obter dados quando nenhum telescópio terrestre consegue observá-lo é muito valioso”, escreveu Karen Meech, astrônoma planetária da Universidade do Havaí, por e-mail. “Isso inclui estimativas de brilho e da quantidade de gás liberado pelo cometa.” Ela citou medições de emissões de hidrogênio feitas pela MAVEN, outra espaçonave da NASA em órbita de Marte. O hidrogênio é produzido pela quebra das moléculas de água pela luz solar, e o brilho das emissões “nos dirá, em última análise, quanta água estava sendo liberada pelo cometa”, disse Meech.

Ainda há mais observações planejadas. O cometa estará mais próximo da Terra em 19 de dezembro, a cerca de 274 milhões de quilômetros. Na primavera seguinte, passará por Júpiter, e a sonda Juno, que orbita o planeta, poderá observá-lo.

Caio Rocha

Sou Caio Rocha, redator especializado em Tecnologia da Informação, com formação em Ciência da Computação. Escrevo sobre inovação, segurança digital, software e tendências do setor. Minha missão é traduzir o universo tech em uma linguagem acessível, ajudando pessoas e empresas a entenderem e aproveitarem o poder da tecnologia no dia a dia.

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