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O que levou a Primeira Turma do STF a manter a prisão preventiva de Bolsonaro por unanimidade

O que levou a Primeira Turma do STF a manter a prisão preventiva de Bolsonaro por unanimidade

Três dias depois de ser conduzido à Superintendência da Polícia Federal (PF), em Brasília, Jair Bolsonaro teve sua prisão preventiva mantida por unanimidade na segunda-feira pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A Primeira Turma referendou a decisão do ministro Alexandre de Moraes, que voltou a citar os sucessivos desrespeitos às medidas cautelares, além de destacar que o ex-presidente “violou dolosa e conscientemente” sua tornozeleira eletrônica, danificada com um ferro de solda. O voto de Moraes rebate o argumento tanto da defesa quanto do próprio Bolsonaro, que culpam “confusão mental” por uso de remédios pela tentativa de romper o equipamento de monitoração, no início da madrugada de sábado.

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Em seu voto, Moraes defendeu ainda a necessidade da conversão da prisão domiciliar em preventiva para a “garantia da ordem pública e para assegurar a aplicação da lei penal”. Flávio Dino, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia acompanharam seu posicionamento — a Turma é formada por quatro ministros desde a saída de Luiz Fux. No domingo, o ex-presidente havia passado por audiência de custódia, quando a prisão foi mantida. Nela, o juiz analisa se houve abuso, ilegalidade ou violência na prisão. Já a decisão dos ministros avalia o mérito da prisão.

No terceiro dia detido, Bolsonaro manteve rotina de banho de sol e TV (leia mais na página 6). Já no campo político, família e aliados voltaram a trabalhar por uma anistia, o que enfrenta resistências. Preso no processo de coação ao Judiciário — aberto após seu filho Eduardo se mudar para os EUA e articular sanções a ministros —, o ex-presidente aguarda o iminente desfecho da ação penal da trama golpista, na qual foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão.

Moraes destacou que Bolsonaro “é reiterante no descumprimento das diversas medidas cautelares impostas”, pontuou o ministro. Ele detalhou que em julho o ex-presidente descumpriu regra de utilização de redes sociais. No mês seguinte, participou de uma videochamada com manifestantes durante atos que pediam anistia aos condenados pelos ataques golpistas do 8 de Janeiro. O ministro, então, pontuou que o desrespeito às medidas continuou, quando na última sexta-feira ele “violou dolosa e conscientemente o equipamento de monitoramento eletrônico”.

Em audiência de custódia no domingo, o ex-presidente atribuiu o ato de queimar parte do equipamento a uma alucinação. Sob o estado de “certa paranoia”, ele acrescentou que desconfiava da instalação de uma escuta na tornozeleira.

Ao seguir o voto de Moraes, Flávio Dino pontuou que “as fugas para outros países de deputados federais perpetradores de crimes similares e conexos, com uso de ardis diversos, demonstram a ambiência vulneradora da ordem pública em que atua a organização criminosa chefiada pelo condenado”. No caso mais recente, o deputado Alexandre Ramagem, condenado no mesmo processo da trama golpista, fugiu do país e está nos EUA.

O ministro ainda citou a vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), pontuada pela Polícia Federal e por Moraes como um elemento que indicava possível tentativa da utilização de apoiadores de Bolsonaro “com a finalidade de obstruir a fiscalização das medidas cautelares” e facilitar uma eventual fuga.

“A experiência recente demonstra que grupos mobilizados em torno do condenado, frequentemente atuando de forma descontrolada, podem repetir condutas similares às ocorridas em 8 de janeiro. Há risco concreto, portanto, de que tais indivíduos tentem adentrar o condomínio, violando patrimônio privado, ou se desloquem a prédios públicos situados nas proximidades, com possibilidade de reiterar atos ilícitos já verificados em outras ocasiões, inclusive com uso de bombas, armas, etc”, frisou Dino.

Zanin e Cármen Lúcia apenas acompanharam o voto de Moraes, sem apresentar fundamentação em separado.

A prisão de Bolsonaro foi determinada por Moraes a pedido da Polícia Federal, que alegou necessidade de garantia da ordem pública. A Procuradoria-Geral da República (PGR) concordou com a medida. O ex-presidente foi levado para a Superintendência da PF em Brasília.

A Polícia Federal afirmou que a vigília convocada por Flávio, em frente ao condomínio onde Bolsonaro estava cumprindo prisão domiciliar, poderia levar a um “tumulto” e um “ambiente propício para sua fuga”.

“O conteúdo da convocação para a referida ‘vigília’ indica a possível tentativa da utilização de apoiadores do réu Jair Messias Bolsonaro, em aglomeração a ser realizada no local de cumprimento de sua prisão domiciliar, com a finalidade de obstruir a fiscalização das medidas cautelares e da prisão domiciliar”, afirmou Moraes.

O ministro do STF também destacou em sua decisão que Bolsonaro tentou violar sua tornozeleira. O ato foi admitido pelo próprio ex-presidente aos agentes que foram em sua casa verificar o ocorrido.

“A informação constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga, facilitada pela confusão causada pela manifestação convocada por seu filho”, escreveu o ministro.

A versão de que Bolsonaro estava em “confusão mental” também foi dada por seus advogados após Moraes cobrar explicações sobre a violação da tornozeleira eletrônica. A defesa usou a situação médica do ex-presidente para solicitar a reconsideração da prisão preventiva. Na última sexta-feira, o ministro do STF negou o pedido de “prisão domiciliar humanitária” apresentado pela defesa.

Ainda na madrugada de sábado, quando agentes da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seap-DF) estiveram em sua casa após o alerta de dano à tornozeleira, Bolsonaro reconheceu que usou um ferro de solda.

Caio Rocha

Sou Caio Rocha, redator especializado em Tecnologia da Informação, com formação em Ciência da Computação. Escrevo sobre inovação, segurança digital, software e tendências do setor. Minha missão é traduzir o universo tech em uma linguagem acessível, ajudando pessoas e empresas a entenderem e aproveitarem o poder da tecnologia no dia a dia.

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