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Quem é Jeannette Jara, a comunista que lidera a candidatura de esquerda para presidência do Chile

Quem é Jeannette Jara, a comunista que lidera a candidatura de esquerda para presidência do Chile

Pela primeira vez o Partido Comunista lidera a disputa para a presidência do Chile graças à figura de Jeannette Jara. Apesar de ter sido uma das principais ministras do atual presidente, Gabriel Boric, ela tenta descolar a sua imagem do governo que é altamente impopular.

Com uma campanha baseada em ser “a cara do povo”, ela lidera as pesquisas de intenção de votos para o primeiro turno das eleições deste domingo, 16.

Atualmente com 51 anos, Jara milita no Partido Comunista desde os 14 anos e hoje lidera uma ampla aliança de centro-esquerda para tentar chegar ao Palácio La Moneda. Foi ministra de Trabalho e Previdência do atual governo, onde foi a responsável pela principal vitória de Boric no Congresso – de poucas: a reforma da previdência.

Ela surpreendeu ao vencer as primárias do governo para a candidatura à presidência. Boric está impedido pela Constituição de concorrer a um segundo mandato consecutivo. Por isso, enquanto as candidaturas de direita se consolidavam, o governo ainda batia cabeça sobre quem seria sua cabeça de chapa.

Jara foi uma surpresa não por seu nome, que já é bem conhecido na política chilena, mas por tornar a candidatura do Partido Comunista do Chile viável.

“O Partido Comunista é um partido muito tradicional e que tem uma longa história no Chile, com um enraizamento social importante”, explica Talita Tanscheit, professora de Ciência Política da PUC-Rio e que já foi pesquisadora na Universidad Diego Portales do Chile.

“Quando a gente pensa no Partido Comunista chileno, a gente pensa em um vínculo popular e sindical, com uma importância no mundo cultural e entre esses círculos intelectuais e progressistas. É bem diferente da tradição brasileira, por exemplo”, completa.

É com esse vínculo popular que Jara vem jogando na campanha eleitoral. Seus apoiadores a destacam por seu carisma e estilo aberto ao diálogo. “O Chile é igual a uma família. Nem todos pensam igual, nem todos se amam igual, mas nem por isso deixa de ser família”, gosta de repetir em suas intervenções.

Ela nasceu em El Cortijo, um bairro pobre do norte de Santiago. Estudou administração pública e direito, e foi líder estudantil. Na juventude teve diversos trabalhos, inclusive a colheita de frutas.

.“Algo que joga a favor dela é que a Jara tem cara de povo”, afirma Tanscheit. “Ela tem cara do Chile popular e essa é uma das razões atribuídas à vitória dela nas primárias. As pessoas se identificam com ela.”

“Eu me identifico com sua história de vida. Também tive que trabalhar e estudar”, afirmou Estefany López, 33 anos, em um ato de campanha em Rancagua, no sul do Chile.

Jara surgiu como opção presidencial depois de conseguir reduzir a jornada semanal de 45 para 40 horas e liderou a reforma do sistema privado de aposentadorias.

Mas o que joga a seu favor também pode ser uma moeda de rejeição. “Esse vínculo popular, esse enraizamento que o Partido Comunista fez, foi fundamental para que eles conseguissem vencer as primárias da centro-esquerda. Contudo, o Chile é um país em que o anticomunismo é uma cultura política muito forte”, explica Tanscheit.

“Há uma resistência e uma dificuldade também de uma figura do Partido Comunista em ampliar a sua base social e a sua base eleitoral”, completa.

Por isso, Jara tem se distanciado de pautas históricas da esquerda e levado o seu programa de governo para um caminho mais de centro. Abraçou o tema da segurança em sua campanha, hoje a principal preocupação dos chilenos, junto com o da imigração. Ela promete maior controle de fronteiras e ser firme com o crime, uma agenda mais própria da direita.

“O tema da segurança pública será prioritário desde o primeiro dia”, afirmou Jara na televisão.

Embora se mantenha nas fileiras do Partido Comunista, faz parte de sua ala social-democrata e marcou diferenças com seus dirigentes mais ortodoxos. “Ela se apresenta como dissidente”, disse à AFP a jornalista Alejandra Carmona, autora da biografia “Jeannette”.

Em todas as pesquisas de intenção de votos, ela aparece em primeiro lugar, com uma média de 30% dos votos, sendo a aposta quase certa para o segundo turno. Quase porque esta será a primeira eleição presidencial com voto obrigatório, o que pode influenciar no resultado das pesquisas.

O segundo turno, contudo, é menos otimista para a comunista. Como as candidaturas de direita estão fragmentadas nesta primeira rodada, a tendência é que os votos dos demais candidatos sejam absorvidos pelo segundo candidato.

Mas o cenário ainda está aberto, já que essa deve ser uma eleição decidida com base na rejeição. Se as pesquisas acertarem, o segundo turno deve ser Jeannette Jara contra José António Kast, candidato de ultradireita do Partido Republicano.

Saudoso da ditadura militar chilena, Kast também é altamente impopular, tendo perdido as eleições de 2021 no segundo turno para o atual presidente. “Tanto a Jeannette Jara, por ser do Partido Comunista, quanto Kast, por ser uma figura de ultradireita, geram um rechaço importante na cidadania”, destaca Talita Tanscheit.

“Não tenho dados sobre anticomunismo, mas eu tenho dados anti-Kast de pesquisas de opinião pública que a gente produz sistematicamente no Chile e você vê que em torno de 65% do eleitorado chileno rejeita o Kast. A questão é, como é um jogo de dois turnos, quem é mais rejeitado? E quem conseguirá aglutinar melhor essa rejeição?”, completa./Com AFP

Caio Rocha

Sou Caio Rocha, redator especializado em Tecnologia da Informação, com formação em Ciência da Computação. Escrevo sobre inovação, segurança digital, software e tendências do setor. Minha missão é traduzir o universo tech em uma linguagem acessível, ajudando pessoas e empresas a entenderem e aproveitarem o poder da tecnologia no dia a dia.

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