×

Uma Batalha Após a Outra estreia na HBO Max: líder de indicações ao Globo de Ouro e favorito ao Oscar

Uma Batalha Após a Outra estreia na HBO Max: líder de indicações ao Globo de Ouro e favorito ao Oscar

Leonardo DiCaprio faz o personagem principal em “Uma Batalha Após a Outra” (2025), de Paul Thomas Anderson.

O campeão de indicações ao Globo de Ouro e um candidato fortíssimo ao Oscar de 2026 estreia nesta sexta-feira (19) na HBO Max. Trata-se de Uma Batalha Após a Outra (One Battle After Another, 2025), o décimo longa-metragem do diretor e roteirista estadunidense Paul Thomas Anderson

No Globo de Ouro, organizado pela Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood, o título recebeu nove indicações: melhor filme de comédia ou musical, direção, ator (Leonardo DiCaprio), atriz (Chase Infiniti), ator coadjuvante (Benicio Del Toro e Sean Penn), atriz coadjuvante (Teyana Taylor), roteiro (também assinado por PTA) e trilha sonora original (Jonny Greenwood). 

No Oscar, o nome de Paul Thomas Anderson já é recorrente. Ele concorreu 11 vezes na premiação da Academia de Hollywood, por seis filmes diferentes: Boogie Nights: Prazer Sem Limites (1997), Magnólia (1999), Sangue Negro (2007), Vício Inerente (2014), Trama Fantasma (2017) e Licorice Pizza (2021). Nunca venceu. (Confira, mais abaixo, detalhes do histórico do cineasta no Oscar.)

O protagonismo de Leonardo DiCaprio, em sua primeira colaboração com Anderson, impulsiona as apostas para o Oscar. Afinal, todos os cinco filmes anteriores do astro disputaram a estatueta dourada mais cobiçada: Assassinos da Lua das Flores (2023), Não Olhe para Cima (2021), Era Uma Vez em Hollywood (2019), O Regresso (2015) que lhe valeu o troféu de melhor ator e O Lobo de Wall Street (2013). A lista de títulos estrelados por DiCaprio inclui dois vencedores do Oscar Titanic (1997) e Os Infiltrados (2006) e mais quatro concorrentes: Gangues de Nova York (2002), O Aviador (2004), A Origem (2010) e Django Livre (2012).

Segundo Scott Feinberg, do site Hollywood Reporter, Uma Batalha Após a Outra pode ser, ao lado de Pecadores, o recordista de indicações ao Oscar, com 14: melhor filme, direção, ator, atriz (a estreante Chase Infiniti), ator coadjuvante (em dose dupla como no Globo de Ouro, com Sean Penn e Benicio Del Toro), atriz coadjuvante (Teyana Taylor), roteiro adaptado (a partir de romance Vineland, de Thomas Pynchon), elenco (Cassandra Kulukundis), fotografia (Michael Bauman), edição (Andy Jurgensen), trilha sonora original (Jonny Greenwood), design de produção (Florencia Martin) e som. 

Clayton Davis, na centenária revista Variety, concorda em praticamente tudo. Só tira o longa da briga em design de produção. E crava Uma Batalha Após a Outra e Paul Thomas Anderson como vitoriosos nas categorias de melhor filme e melhor direção. É o mesmo prognóstico dos críticos do site Next Best Picture.

Filme já ganhou três prêmios importantes

Warner Bros / Divulgação
Personagem de Leonardo DiCaprio em “Uma Batalha Após a Outra” aparece de roupão quase todo o filme.

Em dezembro, Uma Batalha Após a Outraganhou três prêmios de melhor filme: no Gotham Awards, na premiação da imprensa especializada de Nova York, a do New York Film Critics Circle Awards (NYFCC), e na votação da National Board of Review, organização de críticos que também consagrou Paul Thomas Anderson como melhor diretor, Leonardo DiCaprio como melhor ator, Benicio Del Toro como melhor ator coadjuvante e Chase Infiniti como revelação.

Aliás, a crítica norte-americana se apaixonou à primeira vista. Na época da estreia nos cinemas, David Fear afirmou na Rolling Stone que “o thriller impressionante e estrondoso de Paul Thomas Anderson sobre pais, revoluções fracassadas e nossos momentos fodidos é, sem dúvida, o filme do ano”

Para Owen Gleiberman, da Variety, esta é a primeira obra de PTA desde Magnólia que convida o público a adentrar seu universo com a mesma paixão empregada na sua criação

Na Time, Stephanie Zacharek escreveu que “Uma Batalha Após a Outra se desenrola em um zilhão de direções simultaneamente, a ponto de você não conseguir imaginar como tudo vai terminar. Anderson mantém todas as partes em movimento com destreza, com a ajuda do diretor de fotografia Michael Bauman e do editor Andy Jurgensen” e, como de hábito na carreira do diretor, observamos um uso criativo e sofisticado de planos, enquadramentos, movimentos de câmera, edição de imagens etc. 

Segundo Barry Hertz, do canadense The Globe and Mail, a trama prende o espectador desde o primeiro minuto e, “antes que você tenha tempo de recuperar o fôlego e tentar se desvencilhar da rapidez com que foi levado do ponto A ao B, a viagem acaba e você precisa dar outra volta”.

Qual é a trama de “Uma Batalha Após a Outra”?

Warner Bros / Divulgação
O diretor Paul Thomas Anderson com Leonardo DiCaprio e Benicio Del Toro no set de “Uma Batalha Após a Outra”.

De fato, as duas horas e 40 minutos de duração passam voando porque, fazendo jus ao título, Uma Batalha Após a Outra simplesmente não para (aliás, a música composta por Jonny Greenwood, ora um piano nervoso, ora um delicado violão, também quase não para de tocar, e a percepção de sua onipresença constitui um raro ponto negativo). Trata-se de uma mistura de filme de ação, drama familiar e comédia maluca, tudo temperado com comentários políticos

Inclui tiroteios, explosões, fugas pelos telhados dos edifícios, uma sequência antológica de perseguição automobilística em uma estrada no meio do deserto cheia de subidas e descidas, sol cegante e olhares aflitos pelo retrovisor e personagens e grupos com nomes exóticos: Ghetto Pat (uma das alcunhas do protagonista interpretado por Leonardo DiCaprio), Perfidia Beverly Hills (papel de Teyana Taylor, atriz e cantora vista no recente Até a Última Gota), Sensei Sergio St. Carlos (Benicio Del Toro), Junglepussy (Shayna McHayle), os Aventureiros Natalinos e as Irmãs do Castor Valente, freiras que cultivam maconha e ensinam a atirar com metralhadoras nas fictícias Montanhas Chupacabra

A capacidade de entreter o público, a aprovação da crítica e a grife do diretor e do protagonista influenciam bastante as especulações sobre o Oscar, mas há um outro fator importantíssimo: o discurso político, alinhado às preocupações de grande parte da indústria cinematográfica em relação a temas como a ascensão da extrema-direita, a possibilidade do fim da separação entre Estado e Igreja nos Estados Unidos (o presidente Donald Trump já questionou publicamente a laicidade e já emitiu ordem executiva para eliminar o que ele chamou de “viés anticristão” dentro do governo federal), o autoritarismo, o racismo e a xenofobia.

Uma Batalha Após a Outra é livremente baseado no romance Vineland, do escritor Thomas Pynchon, o mesmo autor da história de Vício Inerente. O livro foi publicado em 1990 e se passa em 1984, ano da reeleição de Ronald Reagan à presidência dos EUA. Mas o filme está ambientado nos dias de hoje portanto, é um retorno de Paul Thomas Anderson ao tempo contemporâneo, o que não ocorria desde Embriagado de Amor (2002), embora o diretor tenha abordado questões atuais nas suas narrativas situadas no passado. E PTA reflete, em uma realidade alternativa, a divisão alarmante do país, onde ideias absurdas vem sendo normalizadas e onde a violência é uma resposta cada vez mais recorrente

Warner / Divulgação
A novata Chase Infiniti interpreta Charlene/Willa no filme “Uma Batalha Após a Outra”.

Desde o início de Uma Batalha Após a Outra, é inevitável enxergar paralelos entre o que se vê na tela e o que acontece nos EUA sob o comando de Trump, incluindo as ações para calar as vozes contrárias ao governo. Na sequência de abertura, o personagem de Leonardo DiCaprio é um dos guerrilheiros de um grupo rebelde, o French 75, que invade um centro de detenção na fronteira com o México para libertar os imigrantes. Um dos ataques seguintes é a um senador que trabalhou pela proibição do aborto.

O protagonista acaba se envolvendo romanticamente com Perfidia Beverly Hills, que vem de uma família de revolucionárias negras. Os dois têm uma filha, Charlene (vivida na adolescência, sob o nome Willa, com gana e brilho pela novata Chase Infiniti), mas o casal logo se separa, por motivos que você vai descobrir quando assistir ao filme.

O que se pode contar sem dar spoiler é que essa família vira alvo da obsessão do capitão e depois coronel Steven J. Lockjaw, encarnado por Sean Penn que rouba a cena. Ganhador do Oscar de melhor ator por Sobre Meninos e Lobos (2003) e por Milk: A Voz da Igualdade (2008), Penn se credencia para vencer a categoria de coadjuvante na pele de um sujeito que é ao mesmo tempo ridículo e perigoso, reprimido e agressivo. 

Warner Bros / Divulgação
Perfidia Beverly Hills (papel de Teyana Taylor) e o capitão Lockjaw (Sean Penn) em “Uma Batalha Após a Outra”.

Do outro lado, o Ghetto Pat/Bob Ferguson de Leonardo DiCaprio vai, aos trancos e barrancos, desempenhar o seu papel de pai. Ambos são tipos já clássicos na obra de Paul Thomas Anderson, especialista em construir histórias intensas e de alta densidade emocional ao redor de um personagem masculino complexo, contraditório e pleno de conflitos, envolvendo temas como famílias disfuncionais, solidão, alienação, culpa, fantasmas do passado, destino e redenção. 

Lockjaw empreende uma caçada humana porque ele quer entrar em uma organização milionária e secreta de supremacistas brancos, os Aventureiros Natalinos. Um dos membros dessa elite racista, Virgil Throkmorton (papel de Tony Goldwyn), cuida da Distorção e da Purificação, ou seja, cria protocolos que “justifiquem uma limpeza étnica na sociedade”.

Apesar de seu coração estar claramente do lado esquerdo, Paul Thomas Anderson não deixa de ser satírico na representação dos revolucionários, que lançam surradas frases de efeito enquanto erguem o punho com a mão fechada. Alguns são figuras quixotescas, outros envelheceram e perderam o viço. Há os radicais que podem acabar jogando contra a própria causa e também aqueles que, contraditoriamente, burocratizam a insurgência “Talvez você devesse ter estudado o manual da rebelião com mais afinco”, diz o Camarada Josh (Dan Chariton) quando o protagonista não lembra de uma palavra-código, provavelmente pelo excesso de álcool e outras drogas que consumiu depois de virar um guerrilheiro aposentado que passa os dias vestido com um roupão.

Por falar em contradição, uma das melhores piadas de Uma Batalha Após a Outra utiliza um símbolo da indústria de Hollywood como símbolo do ideal revolucionário: “Liberdade é não ter medo”, declara o Sensei Sergio St. Carlos. “Como Tom “fucking” Cruise!”

Paul Thomas Anderson no Oscar

  • Boogie Nights: Prazer Sem Limites (1997) Paul Thomas Anderson concorreu ao Oscar de melhor roteiro original. O filme também disputou os prêmios de ato coadjuvante (Burt Reynolds) e atriz coadjuvante (Julianne Moore). (HBO Max)
  • Magnólia (1999) Outra indicação ao Oscar de roteiro original. Tom Cruise disputou a categoria de ator coadjuvante, e Aimee Mann, a de canção, com Save Me. (HBO Max)
  • Sangue Negro (2007) PTA competiu em dose tripla: melhor filme (como um dos produtores), direção e roteiro adaptado. Daniel Day-Lewis venceu como melhor ator, e Robert Elswit conquistou a categoria de fotografia. Houve mais três indicações: edição, direção de arte e edição de som. (Aluguel em Amazon Prime Video e Apple TV)
  • O Mestre (2012) Dessa vez, Anderson não recebeu indicação, mas o filme concorreu nas categorias de melhor ator (Joaquin Phoenix), ator coadjuvante (Philip Seymour Hoffman) e atriz coadjuvante (Amy Adams). (Indisponível no streaming)
  • Vício Inerente (2014) PTA foi indicado ao troféu de roteiro adaptado, e o filme também competiu em figurino. (HBO Max)
  • Trama Fantasma (2017) O cineasta disputou os prêmios de melhor filme e direção. Mark Bridges foi premiado na categoria de figurino, e houve mais três indicações: ator (Daniel Day-Lewis), atriz coadjuvante (Lesley Manville) e música original. (MUBI)
  • Licorice Pizza (2021) Outra indicação tripla: melhor filme, direção e roteiro original. (MUBI) 

É assinante mas ainda não recebe a minha carta semanal exclusiva? Clique AQUI e se inscreva na minha newsletter.

Já conhece o canal da coluna no WhatsApp? Clique aqui: gzh.rs/CanalTiciano

Caio Rocha

Sou Caio Rocha, redator especializado em Tecnologia da Informação, com formação em Ciência da Computação. Escrevo sobre inovação, segurança digital, software e tendências do setor. Minha missão é traduzir o universo tech em uma linguagem acessível, ajudando pessoas e empresas a entenderem e aproveitarem o poder da tecnologia no dia a dia.

Publicar comentário