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Vereador preso em operação contra TCP negociou nomeações em troca de apoio político e ofereceu suporte para construção de barricadas, segundo polícia

Vereador preso em operação contra TCP negociou nomeações em troca de apoio político e ofereceu suporte para construção de barricadas, segundo polícia

O vereador Ernane Aleixo (PL), de São João de Meriti, é alvo de uma operação da Polícia Civil nesta terça-feira. De acordo com as investigações, o político integra o braço político ligado ao Terceiro Comando Puro (TCP), que atua na Baixada Fluminense. Segundo a polícia, áudios e mensagens trocados pelo vereador mostraram que ele ofereceu material e suporte para construções de barricadas, além de ter negociado vagas de nomeação em troca de apoio político. Agentes estão nas ruas para cumprir oito mandados de prisão e 36 de busca e apreensão. Cinco pessoas já foram presas.

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A polícia informou que o vereador integrava uma rede de “favores” que oferecia suporte logístico e operacional em troca de benefícios financeiros e eleitorais. De acordo com a corporação, o suporte dele foi usado para a construção de barricadas em Vilar dos Teles, prática que impedia o acesso policial e de serviços básicos à população. Ele foi preso na manhã desta terça-feira.

Em reproduções das conversas às quais O GLOBO teve acesso, o vereador negocia o envio de maquinário — aparentemente pertencente à prefeitura — para “rasgar” as ruas onde seriam instaladas barricadas. As mensagens são trocadas com Marlon Henrique da Silva, o Pagodeiro, braço direito do traficante Geonário Fernandes Pereira Moreno, o Genaro, chefe do TCP na região. Nos diálogos, o vereador afirma que pode emprestar um “martelete”. Posteriormente, ele chega a oferecer vagas de emprego em um hospital para pessoas que o Pagodeiro quisesse “ajudar” na comunidade.

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Troca de mensagens entre o vereador Ernane Aleixo (PL), de São João de Meriti e Pagodeio, em que ele oferece material e suporte para construções de barricadas, além de ter negociado vagas de nomeação em troca de apoio político — Foto: Reprodução

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O delegado Vinicius Miranda, da DCOC-LD, detalhou como atuava o grupo ligado ao vereador investigado por negociar maquinário público com traficantes para a construção de barricadas. Segundo ele, a investigação identificou três núcleos de atuação: o do tráfico na área, o de lavagem de dinheiro e um terceiro, que chamou a atenção dos investigadores por envolver diretamente a estrutura política local.

— Desde o agente público oferecendo ao traficante cargos em hospital público, desde que ele o apoie… “eu cedo cargos para você, desde que você, que tem o poder da força na comunidade, fale bem de mim para que as pessoas votem em mim”. O que assusta ainda mais é a possibilidade de que bens públicos, ou seja, aquele bem adquirido com o dinheiro do povo, sejam utilizados para ferir o povo. […] Ele é utilizado para prejudicar o povo na construção de barricadas — disse o delegado.

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Indagado sobre a possibilidade de o vereador repassar informações sobre operações policiais, Miranda disse que não há elementos que sustentem essa suspeita. Ele citou exemplos concretos do material colhido pela Polícia Civil.

— Há uma conversa clara em que o cliente pede uma retroescavadeira para rasgar a rua. O agente público afirma que não pode ceder a escavadeira, mas que pode ceder martelete para que ocorra — disse.

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Em outra mensagem, segundo o delegado, o agente público chega a orientar onde a barricada deveria ser instalada:

— O agente público solicita que a barricada seja um pouquinho mais para trás, comprovando essa relação promíscua de intimidade. Essas coisas aconteceram e essas solicitações foram atendidas.

O delegado ainda citou um áudio atribuído ao Pagodeiro, no qual o criminoso relata a morte de dois rivais e de uma mulher inocente, em novembro de 2023.

— Fora esses três homicídios, temos identificados casos de extorsão a comerciantes locais praticados pelo Pagodeiro, pelo irmão dele, preso hoje, e por outras pessoas da facção. Eles vão expandindo essas barricadas até onde conseguem. Eles fazem qualquer coisa para obter lucro: corrupção, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro.

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Casa de vereador Ernane Aleixo (PL) tem busca e apreensão

Casa de vereador Ernane Aleixo (PL) tem busca e apreensão

Em biografia disponível no site da Câmara de São João de Meriti, Aleixo se descreve como “um homem íntegro, honesto e cumpridor dos seus deveres”. Ele se elegeu pela primeira vez em 2008 e conseguiu se reeleger desde então. Ele está em seu quinto mandato como vereador.

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Segundo a biografia da Câmara, a atuação dele é focada na assistência social e na recuperação e manutenção de vias e praças públicas. Ele é do Partido Liberal (PL), o mesmo do governador Cláudio Castro. Aleixo se elegeu com 6.720 votos em 2024.

Após tomar posse, fez uma publicação nas redes sociais agradecendo a confiança e o apoio da população:

“Ontem, meu coração transbordou de alegria e gratidão ao assumir, mais uma vez, o compromisso de representar cada cidadão de São João de Meriti no meu 5º mandato como vereador deste município tão querido. Esta conquista não é apenas pessoal, mas reflete a confiança e o apoio que recebi de cada um de vocês, que acreditam no meu trabalho e na minha dedicação em lutar por uma cidade melhor”, escreveu.

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Operação Muro de favores

A operação desta terça-feira, chamada de Muro de Favores, foi deflagrada para desarticular uma rede de tráfico, extorsão, homicídios e corrupção política na Baixada Fluminense.

A investigação descobriu uma complexa estrutura criminosa ligada à facção Terceiro Comando Puro (TCP), atuante na Baixada Fluminense, principalmente nas comunidades Trio de Ouro (São João de Meriti), Guacha e Santa Tereza (Belford Roxo).

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De acordo com a polícia, o grupo atua em tráfico de drogas, homicídios, extorsão qualificada de proprietários de estabelecimentos e lavagem de dinheiro, utilizando armas de fogo de uso restrito.

O núcleo investigado era gerenciado por Pagodeiro. Segundo a polícia, elementos da investigação mostram que Pagodeiro confessou ter matado três vítimas, incluindo uma mulher, durante confronto com facção rival em novembro de 2023.

A ação é da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD), integrada à estratégia da Operação Barricada Zero.

Caio Rocha

Sou Caio Rocha, redator especializado em Tecnologia da Informação, com formação em Ciência da Computação. Escrevo sobre inovação, segurança digital, software e tendências do setor. Minha missão é traduzir o universo tech em uma linguagem acessível, ajudando pessoas e empresas a entenderem e aproveitarem o poder da tecnologia no dia a dia.

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